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"Não há ninguém com quem conversar": Lavrov sobre as negociações entre o Ocidente, a Ucrânia e a Rússia

Ministro das Relações Exteriores russo destacou que Moscou está "seriamente aberto a negociações baseadas na realidade".
"Não há ninguém com quem conversar": Lavrov sobre as negociações entre o Ocidente, a Ucrânia e a RússiaGettyimages.ru / Aziz Karimov

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou neste domingo que Moscou não participará da conferência que os países ocidentais planejam organizar na Suíça para tentar resolver a crise ucraniana, ou em qualquer outro evento em que a 'fórmula de paz' de Vladimir Zelensky seja promovida.

"Ainda não há ninguém com quem conversar", comentou o chanceler russo. "Nenhum deles [os líderes ucranianos, norte-americanos e europeus] está pronto para uma conversa séria. Eles estão 'brincando' com uma paródia de negociações na forma de uma reunião na Suíça", afirmou.

Lavrov explicou durante uma entrevista que, apesar das alegações de que essa será "uma nova iniciativa dedicada ao desenvolvimento de abordagens universalmente aceitáveis, isso não é verdade". O chanceler russo revelou que seu homólogo suíço, Ignazio Cassis, já havia lhe "contado sobre esse plano" no final de janeiro.

"A Suíça não é mais um Estado neutro"

Nesse sentido, o ministro russo afirmo que intentou "'colocá-lo com os pés no chão' e lhe expliquei que ninguém poderá se desviar da 'fórmula' de Zelensky", que implica "a capitulação da Rússia, o pagamento de reparações, um tribunal sobre os líderes russos e muito mais".

"Cassis afirmou que estamos cometendo um erro. Que a Suíça, como um país neutro, fará tudo o que puder para garantir que a conversa seja baseada no realismo. Mas a Confederação Suíça não é mais um Estado neutro. Ela está na vanguarda daqueles que apóiam e armam o regime de Kiev. Assume a posição mais dura em relação à Rússia, inclusive quando se trata da introdução de novas sanções", afirmou.

Uma 'fórmula' "ilusória e russofóbica"

Lavrov ainda explicou que os organizadores da conferência na Suíça se concentraram em três áreas: segurança nuclear, segurança alimentar no contexto da navegação marítima e questões humanitárias. "Isso não muda nada", enfatizou.

"Essas três questões estão presentes na 'fórmula de paz' de Zelensky para encobrir sua essência francamente ilusória e russofóbica", apontou Lavrov, ressaltando que tanto o presidente ucraniano quanto sua equipe declararam que "sob nenhuma circunstância a Rússia deveria ser convidada para essa conferência". O motivo baseia-se em seu objetivo de primeiro enfeitiçar os países do Sul Global em um círculo mais íntimo e "arrastá-los para uma plataforma comum, que será apresentada à Rússia como um ultimato", comentou.

A Rússia está aberta ao diálogo

"Quando nossos colegas suíços declaram o desejo de convidar a Rússia para a primeira conferência, não estão dizendo a verdade. Não participaremos de nenhum evento que, de uma ou outra forma, promova a 'fórmula de paz' de Zelensky. Todos sabem disso há muito tempo. Estamos seriamente abertos a negociações baseadas na realidade", disse o ministro russo, ressaltando que sua declaração foi baseada em fatos.

A esse respeito, o chanceler lembrou que Moscou abordou a iniciativa de paz chinesa; reuniu-se duas vezes em 2023 com delegações africanas lideradas pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa; e manteve conversas com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e seus assessores.

"Há declarações diárias de que nos recusamos a negociar. Eles dizem que querem negociar, mas a Rússia se recusa. Isso não é justo. Embora não esperemos mais honestidade e decência de nossos parceiros ocidentais", concluiu Lavrov.