Israel afirma em tribunal da ONU que guerra em Gaza é "trágica", mas "não há genocídio"
Israel afirmou nesta sexta-feira no mais alto tribunal das Nações Unidas, em Haia, que a ofensiva israelense em Gaza é "trágica", mas negou que houvesse um caso de "genocídio" a ser respondido.
"A África do Sul apresenta ao tribunal pela quarta vez uma imagem que é totalmente desconectada dos fatos e das circunstâncias", disse Gilad Noam, advogado representante de Israel, classificando o caso de "uma exploração obscena da convenção mais sagrada", referindo-se ao tratado internacional que proíbe o genocídio, acordado após o Holocausto dos judeus europeus na Segunda Guerra Mundial.
Segundo Noam, Tel Aviv está imersa em um "conflito difícil e trágico", do qual a África do Sul não tem conhecimento.
"A África do Sul ignora esse contexto factual, que é essencial para compreender essa situação", disse, acrescentando que as acusações da África do Sul não têm qualquer base de fatos ou de leis. "Há uma guerra trágica em curso, mas não há genocídio", declarou.
Segundo o advogado, até agora não houve nenhum ataque em "larga escala" em Rafah, e sim "operações específicas e localizadas precedidas de esforços de evacuação e apoio a atividades humanitárias".
Antes de encerrar a audiência, a CIJ fez uma pergunta à delegação israelense sobre as condições humanitárias em suas "zonas de evacuação" declaradas em Gaza.
"Israel pode fornecer informações sobre as condições humanitárias existentes nas zonas de evacuação designadas, em particular em al-Mawasi, e como garantiria a passagem segura para essas zonas, bem como o fornecimento de abrigo, alimentos, água e outras ajudas humanitárias e assistência a todos os evacuados que estão e podem chegar a essas zonas?", perguntou o juiz Georg Nolte leu a pergunta.
Foi solicitado a Israel que apresentasse uma resposta por escrito à pergunta até amanhã, 18 de maio, às 16h, informou o tribunal.
"Nova e terrível fase"
Na quinta-feira, a África do Sul declarou diante a CIJ que a situação em Gaza havia atingido "uma nova e terrível fase" e que eram necessárias medidas de emergência para interromper a operação militar de Israel na cidade de Rafah, ao sul do enclave palestino.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou a ofensiva de Rafah apesar da oposição dos Estados Unidos, seu principal aliado, que teme as consequências para mais de um milhão de palestinos deslocados que buscaram refúgio na cidade fronteriza do sul da Faixa de Gaza.
- Em janeiro, os juízes da alta corte da ONU ordenaram que Israel fizesse todo o possível para evitar a morte, a destruição e qualquer ato de genocídio em Gaza, mas o painel não chegou a ordenar o fim da ofensiva militar, que devastou o enclave palestino. Em uma segunda ordem em março, o tribunal disse que Israel deve tomar medidas para melhorar a situação humanitária.
- A África do Sul iniciou um processo contra o Estado judeu em Haia em dezembro de 2023. No domingo, o Egito anunciou que planeja se juntar ao caso. Na América Latina, a Nicarágua e a Colômbia também enviaram solicitações formais nesse sentido.