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ONG britânica acusa Zara e H&M de usar algodão obtido por meio de desmatamento ilegal no Brasil

Nas últimas décadas, o Brasil aumentou significativamente a produção de algodão, especialmente no Cerrado, onde é cultivado em rotação com a soja.
ONG britânica acusa Zara e H&M de usar algodão obtido por meio de desmatamento ilegal no BrasilGettyimages.ru / Paulo Fridman/Corbis

Um relatório da ONG britânica Earthsight expôs as consequências ambientais da produção industrial de algodão no Brasil, onde o desmatamento ilegal, a grilagem de terras, a corrupção e a violência são comuns. A matéria-prima é usada para a produção de roupas vendidas por várias redes, incluindo H&M e Zara, diz a organização.

Durante mais de um ano, a ONG analisou imagens de satélite, decisões judiciais, registros de embarque e participou de feiras comerciais globais para rastrear cerca de 816.000 toneladas de algodão exportadas de algumas das maiores fazendas do Brasil para oito produtores de vestuário na Ásia. Cerca de 250 milhões de peças de vestuário e itens domésticos foram produzidos lá para as redes de varejo.

As terras das plantações pertencem a famílias ricas que estão entre os maiores produtores de algodão do Brasil. Mas elas também têm ações judiciais, condenações por corrupção e milhões de dólares em multas por desmatar cerca de 100.000 hectares no Cerrado. Essa vasta região cobre um quarto da área terrestre do Brasil e abriga 5% das espécies do mundo, incluindo o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra.

Segundo o relatório da Earthsight, mais da metade dessa região foi desmatada para a agricultura, especialmente nas últimas décadas. No último ano, o desmatamento aumentou em 43%. Essa destruição, segundo o próprio Governo brasileiro, causa um impacto climático equivalente à presença de 50 milhões de veículos a mais a cada ano, enquanto, devido à perda de seu habitat, centenas de espécies correm o risco de extinção.

Além disso, a situação ambiental é agravada pelo fato de que todos os anos bilhões de litros de água doce são desviados para os campos de algodão, que também são pulverizados com 600 milhões de litros de pesticidas.

Nesse contexto, nas últimas décadas, o Brasil aumentou significativamente a produção de algodão, especialmente no Cerrado, onde é cultivado em rotação com a soja. De acordo com o relatório, espera-se que o país sul-americano se torne o maior exportador de algodão até 2030, à frente dos EUA.

No entanto, o aumento das terras de produção está fazendo com que as comunidades tradicionais retrocedam, pois são forçadas a abandonar seus territórios, não conseguem realizar suas atividades de subsistência e estão sujeitas a vigilância, intimidação e roubo de gado por assassinos contratados que respondem aos grandes proprietários de terras.

"A agricultura [de algodão] cresceu muito nas últimas décadas e se tornou um desastre ambiental", afirmou Sam Lawson, diretor da Earthsight. "Se você tem roupas, toalhas ou lençóis de algodão da H&M ou da Zara, é provável que eles estejam manchados pela depredação do Cerrado. Essas empresas falam sobre boas práticas, responsabilidade social e esquemas de certificação, afirmam que investem em rastreabilidade e sustentabilidade, mas tudo isso agora parece tão falso quanto suas fachadas", lamentou.