
A veia aberta do Peru - RT Reporta
Considerada por muito tempo um legado de um vergonhoso passado de violência, a ligação com Império Inca, a mais ampla civilização pré-colombiana, tem sido escondida por várias gerações de peruanos e negligenciada pelas autoridades.
Contudo, dando curva apertada a essa tendência, agora pessoas no Peru ficam cada vez mais orgulhosas com suas raízes indígenas, expondo-as sem vergonha e reunindo pedaço por pedaço a cultura e sabedoria inca.
Passado negligenciado
"A maioria dos peruanos vai te dizer que são peruanos por acaso (...) E você pergunta 'e os seus antecedentes indígenas?' Ninguém se lembra. Ninguém recorda. Apagaram isso", explica Nina Vigil, linguista e especialista em interculturalidade, a situação com reconhecimento do passado do Peru.

Segundo ela, até hoje muitos peruanos têm vergonha do seu passado antigo, assombrado pela violência cultural e física por parte dos espanhóis que devastaram templos luxuosos do Império Inca.
Diversas riquezas culturais indígenas foram apropriadas então pelos portadores dos hábitos europeus, deixando para nossas gerações somente escombros do brilho ancestral.
Um desses pedaços do Império Inca que espanta todo o mundo é Machu Picchu, destruído no passado e agora considerado patrimônio da humanidade e uma das sete maravilhas do mundo. Pessoas, cujos antepassados foram oprimidos, agora com carinho falam desse lugar. "É o máximo, é uma maravilha do mundo, é praticamente nossa identidade", disse uma mulher peruana à RT.
Sofrimento cultural
Atualmente, o orgulho e identidade de povo indígeno do Peru está renascendo das cinzas do sofrimento cultural.
Um dos pontos mais escuros da opressão do povo local foi o programa de controle de natalidade realizado pelo governo Fujimori, cujo objetivo, segundo as autoridades, foi combater a expansão da pobreza.
Milhares de mulheres indígenas foram submetidas a essa medida sem consentimento ou até aviso, fazendo desse programa o caso de crimes contra a população local.
Não foi só o controle de fertilidade, mas também o da língua que expôs pessoas indígenas ao sofrimento contínuo durante anos.
Novas gerações
Apesar do passado escuro, novas gerações de peruanos não vêem desgraça em demonstrar suas raízes indígenas, buscando vários meios de levar a cultura, artesanato, línguas e crenças incas para o mundo.
A língua quechua se tornou uma ferramenta e amostra das tentativas de indígenas peruanos de demonstrar evidências de seu passado, o tornando mais orgulhoso. Atualmente, mais de três milhões de pessoas falam essa língua, sentindo cada vez menos desriminação nessa área.
A tendência de nova geração de peruanos de reconhecer seu passado chegou até ao governo peruano. "Para se reconhecer é necessário reconhecer seu idioma, sua cultura, suas atividades e se mostrar como realmente é", disse à RT Guido Bellido, que trabalhou como chefe do gabinete no governo Pedro Castillo e protagonizou processo de se expressar em quéchua durante sessão de congresso do Peru.
Agora ainda há muito trabalho a ser feito para reviver a cultura indígena e atingir reconhecimento de opressão por parte dos europeus, que até é impedido por elites e alguns representantes do governo. Mesmo assim, a tendência de se orgulhar das suas raízes, tradições e terras andinas.