Barbados: memória e futuro - RT Reporta

Em 2021, Barbados cortou seu último laço com a monarquia britânica. A coroa caiu sem estrondos, mas seu eco ressoou por todo o Caribe. Em uma região moldada por séculos de escravidão e colonialismo, o gesto barbadiano desperta debates sobre identidade, justiça e futuro. Da reflexão histórica à indiferença cotidiana, voltamos nosso olhar para as tensões entre memória e modernidade em uma ilha que busca definir-se por si mesma.

Barbados é conhecida por suas praias de água cor turquesa e por seu ritmo de calypso, mas sua história foi marcada por séculos de exploração. Entre 1660 e 1838, "mais de 800 mil escravos foram enviados para Barbados", lembra o historiador Kevin Farmer enquanto folheia um manual de 1786 que regulava "o tratamento dos negros".

Aos escravos da plantação Newton, por exemplo, era concedido "meio dia por mês" para cultivar seu próprio quintal: uma migalha que, somada à má alimentação, os levava à desnutrição e à morte antes dos 40 anos.

Vestígios físicos do passado

Os vestígios daquele regime ainda emergem. Em Newton encontra-se o único cemitério exclusivo de escravos já encontrado na ilha: arqueólogos exumaram os restos mortais de mais de 570 pessoas que jazem, até hoje, ao longo de canaviais.

Embora a escravidão tenha sido abolida em 1838, algumas famílias britânicas continuam no comando de extensas plantações. Uma delas é a St. Nicholas Abbey, que abriu suas instalações ao público, mas não nega seu passado atroz; em contrapartida, a plantação Drax Hall, com cerca de 1.300 hectares, permanece fechada e seus proprietários evitam qualquer diálogo com as autoridades locais.

Revoltas raras e geografia determinante

As revoltas eram raras. O professor Woodville Marshall relembra a de 1816, liderada por Bussa, um herói nacional, mas esclarece que, para a maioria, "o principal objetivo era tentar sobreviver".

O doutor Tennyson Worrel apresenta duas teorias para a relativa calma: a geografia plana, que impedia a fuga para as montanhas, e uma forma precoce de governo representativo que oferecia certa participação àqueles que cumpriam os requisitos de propriedade.