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Por que é mais fácil imaginar o apocalipse do que pensar na possibilidade de mudar o sistema social vigente? - Entrevista RT

"A depressão é um problema endêmico no Brasil, mas a ansiedade é ainda maior", afirma Christian Dunker, psicanalista brasileiro. Nesta edição do "Entrevista RT", nos aprofundamos na questão da saúde mental e de sua relação com nossa realidade econômica e tecnológica. Por que o neoliberalismo busca gerar mais sofrimento aos trabalhadores? Por que cada vez mais pessoas acreditam em teorias da conspiração? Quais novos mal-estares psicológicos enfrentarão a geração nativa digital?

O Brasil enfrenta uma grave crise de saúde mental, com altos índices de depressão e ansiedade, especialmente nas grandes metrópoles. Segundo Christian Dunker, psicanalista e professor da USP, esta situação está ligada à instabilidade social, desigualdade e violência que geram insegurança e desconfiança às instituições.

Além disso, o neoliberalismo exacerbou a precarização do trabalho, transformando o sofrimento psíquico em ferramenta de produtividade, com abordagens que aumentam a culpa e a competição entre os trabalhadores.

Em busca de reconhecimento virtual 

As redes sociais também desempenham um papel significativo nesse cenário, funcionando como uma falsa esfera pública que, em vez de promover diálogo, reforça bolhas de interesse e narcisismo. Dunker destaca que a cultura brasileira, já marcada por desigualdades, foi profundamente afetada pela digitalização, o que ampliou a sensação de solidão e exclusão.

A promessa da democratização promovida pela internet não se concretizou, e muitos se veem presos em ciclos de busca por reconhecimento virtual, enquanto a vida offline se torna cada vez mais fragmentada e hostil.

Necessidade de regulamentação 

Para Dunker, é preciso pensar em regulamentação e mediação pedagógica para combater os discursos de ódio e reduzir os danos causados pelas plataformas digitais. Ele alerta para o surgimento de uma geração marcada pelo "despertencimento", com dificuldades para lidar com lutos e relações afetivas profundas.

Se nada for feito, a tendência é que o mal-estar contemporâneo se agrave, transformando a solidão em um sintoma cada vez mais comum na sociedade brasileira.