
Emir Kusturica: Hoje, a União Europeia é uma organização política baseada em um programa de guerra
O atual conflito na Ucrânia é basicamente uma consequência do bombardeio da Iugoslávia perpetrado pela OTAN em 1999, reflete o destacado cineasta sérvio Emir Kusturica neste novo episódio de 'Conversando com Correa'.
"Quando destruíram a Iugoslávia, houve um longo período em que as universidades norte-americanas ensinavam a estar contra a União Soviética, contra o comunismo", indicou, recordando como defendiam naquela época "a ordem liberal dizendo que até a União Soviética entraria em colapso por não fazer parte do Iluminismo, quando as escolas, a educação, tudo o que fosse compreender a União Soviética, não importava".

"Só havia uma ideia: destruir os russos", resumiu, concluindo que as nações ocidentais "queriam que os russos se ajoelhassem e lhes entregassem seus recursos naturais": "Mas em vez de bombardear diretamente a Rússia, eles bombardearam Belgrado", afirmou, classificando os responsáveis como "criminosos de guerra em uma guerra civil sobre a qual ninguém tinha ideia do que se tratava".
Com o bombardeio da Sérvia, a OTAN "estava mostrando músculo": "Em Bucareste acordaram que a Aliança não se expandiria para as fronteiras do Leste, mas foi pura mentira. E hoje temos uma guerra na Ucrânia, que é sem dúvida a fronteira da cultura ortodoxa russa", explicou o cineasta.
"A Rússia é um país que faz fronteira com Deus"
Ao abordar a complexidade de uma potencial escalada do confronto ocidental com a Rússia e as capacidades nucleares de muitos países, o cineasta expressou desejo de estar no país eslavo caso uma guerra nuclear eclodisse.
"Se tivesse que escolher onde estar quando as bombas nucleares começassem a cair, gostaria de estar na Rússia ao invés da Europa. Como diz Rainer Maria Rilke, a Rússia é um país que faz fronteira com Deus", afirmou.
Kusturica também descartou os Estados Unidos como um local onde gostaria de estar em tal momento, expressando a esperança de que esse pior cenário nunca venha a se concretizar.
"O Marilyn Monroe da América Latina"
Ao falar sobre seu trabalho cinematográfico, Kusturica destacou a felicidade que sente por ter tido em sua vida "a oportunidade de descobrir o espírito" de dois latino-americanos excepcionais: Diego Armando Maradona e o ex-presidente do Uruguai, José 'Pepe' Mujica.
"Fiquei verdadeiramente feliz por retratar uma das pessoas mais icônicas da história da América Latina, que foi Maradona. Sempre o chamei de 'o Marilyn Monroe da América Latina'. Ele era tão popular, tão carismático e tão... Sabe?", afirmou.
Sobre Mujica, com quem passou muito tempo, o cineasta o qualifica como "a melhor pessoa" que conheceu em sua vida: "Ele é o melhor espírito e o melhor exemplo do que chamamos socialmente de 'relevante', levando em consideração sua política no país", expressou.





