Guilherme Boulos: Fundos internacionais lucram com o solo urbano da América Latina

Nesta ocasião, Rafael Correa recebe Guilherme Boulos, deputado federal e ativista social brasileiro, uma das figuras centrais do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Comentamos como os capitais internacionais especulam com a terra das cidades latino-americanas e como a perspectiva neoliberal agrava o problema da moradia na região.

O deputado federal por São Paulo, Guilherme Boulos, conversou com o ex-presidente equatoriano Rafael Correa sobre questões estruturais relacionadas à economia e política no Brasil, país que descreveu como "um dos mais desiguais do planeta".

Boulos enfatizou que "a desigualdade é a maior doença do Brasil", observando que, embora seja um problema comum na região, essa questão se destaca no gigante sul-americano, que é "o país mais rico" em termos macroeconômicos.

Revolução da habitação

Esse ambiente propício motivou seu envolvimento com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto no Brasil. 

Nos anos 2000, a ascensão de Lula trouxe a criação de programas para a construção de habitação pública, com a colaboração do setor privado e a participação ativa dos movimentos populares. "Quando Lula foi preso ilegalmente, foi o povo que saiu de suas casas e condomínios populares para organizar o movimento Lula Livre", lembrou Boulos, destacando a mobilização popular em defesa da justiça social e do direito à moradia.

"E o resultado foi que, com o mesmo dinheiro que as construtoras usavam para construir apartamentos de 40 metros quadrados em regiões muito remotas, construímos apartamentos de 65 metros quadrados com três quartos, varanda e elevador. Com tudo isso, a moradia popular no Brasil foi revolucionada", afirmou.

Para ele, a transformação dessa realidade também veio da organização do povo para a luta social, o que demonstrou sua importância em momentos-chave da política brasileira, como a "guerra jurídica" contra Lula.

Especulação de capital internacional

O capital financeiro internacional está especulando com o mercado imobiliário na América Latina, transformando o direito à habitação em um bem de consumo, alertou Boulos.

Ele destacou que essa prática é uma das formas mais lucrativas de rentismo, onde fundos de investimento, como os de Dubai ou dos Estados Unidos, detêm terrenos nas grandes cidades, o que torna o acesso à moradia algo "totalmente antidemocrático".