
Emir Sader: "A América Latina passou a ser o epicentro da luta antineoliberal"
O filósofo e cientista político brasileiro Emir Sader acredita que a América Latina se tornou "o epicentro da luta antineoliberal", visto que o início deste século foi marcado pela ascensão de líderes progressistas.
No programa "Conversando con Correa", Sader contrastou o desenvolvimento político das últimas cinco décadas com o da época em que viveu a partir de meados do século XX com o surgimento da Revolução Cubana e a subsequente resposta do imperialismo norte-americano, o que levou à implantação de ditaduras sangrentas no Cone Sul.
"Este século começou como um século latino-americano, antineoliberal, de reivindicações nacionais, democráticas e populares, com governos e líderes latino-americanos que se tornaram os grandes líderes políticos do mundo porque a região foi a única a ter governos antineoliberais", afirmou.

Para Sader, esse comportamento foi uma espécie de "anomalia" do início do século, "porque o neoliberalismo era o modelo que mais se difundia pelo mundo".
Estado mínimo, mercado máximo
Em sua reflexão, Sader alertou que este não é o fim da luta, pois os defensores da doutrina neoliberal voltaram seus ataques contra o Estado e consideram que a estrutura "se tornou um problema" para eles.
"O Estado passou a ser alvo dos seus grandes ataques, porque o Estado podia regular a economia, desenvolver políticas sociais, alianças internacionais [...] Então, daí surgiu a ideia do Estado mínimo, que significa 'mercado máximo': tudo é mercadoria, tudo se vende, tudo se compra, tudo tem um preço", destacou o especialista.
Sader também enfatizou que a América Latina é hoje a região "mais resiliente" ao ataque desses postulados, com governos de esquerda ou progressistas em países como Honduras, México, Uruguai, Colômbia e Brasil.
Trump e os BRICS
O filósofo considerou que um dos acontecimentos geopolíticos mais importantes deste século foi a fundação do BRICS, pois combina pela primeira vez "a força política e militar da Rússia, a força econômica da China, a capacidade de coordenação política do Brasil" e o potencial dos demais países-membros.
Dessa forma, Sader afirma que surgiu um "novo grande fenômeno que confronta o imperialismo americano" com um bloco que representa 27% do PIB global e abriga 41% da população mundial.
Além das diferenças e assimetrias entre seus membros, Sader afirma que eles estão unidos por uma "posição contra-hegemônica" do Sul Global que surge em meio ao "declínio" do imperialismo norte-americano.
Em sua opinião, o declínio dessa hegemonia também é consequência direta do atual ocupante da Casa Branca: "[Donald Trump] é suicida", afirmou.




