As novas sanções contra a Rússia: efeitos limitados, sinais políticos claros

Rose Martins

Nas últimas semanas, os Estados Unidos e a União Europeia incrementaram a política de sanções contra a economia da Rússia ao anunciar novas restrições. Enquanto os europeus decidiram implementar a 19ª rodada de sanções, os Estados Unidos estabeleceram políticas contra as principais empresas petrolíferas da Rússia, a Rosneft e a Lukoil.

As sanções contra a sua economia se converteram em uma realidade para a Rússia desde 2014, após a Crimeia decidir incorporar-se ao território russo em um referendo. No entanto, foi em fevereiro de 2022, após o início da Operação Especial nas fronteiras da Rússia, que elas ganharam outra magnitude, desde a proibição de importação de gás natural pelos gasodutos que atendiam a 40% da demanda europeia, até o congelamento das reservas russas e a expulsão do país do SWIFT.

As novas medidas tendem a ter efeitos negativos limitados na economia da Rússia, mas o sinal político fica evidente, sobretudo para aqueles que acreditaram que o encontro no Alasca pudesse normalizar as relações entre a Rússia e os Estados Unidos.

Ao invés disso, os norte-americanos decidiram adicionar mais uma camada de pressão ao setor energético da Rússia. As novas restrições são justificadas como uma forma de pressionar Moscou a aceitar um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Se essa justificativa tem base real, indica que Donald Trump tende a abandonar a posição de mediador em que propagandeou estar desde que tomou posse e a via do diálogo com o Kremlin.

Como forma de aumentar a pressão sobre a Rússia, os Estados Unidos estão implementando também sanções secundárias que podem atingir países terceiros, como a China e a Índia. O objetivo é aprofundar a noção de que fazer negócios com as empresas russas é muito arriscado e que a Rússia é um parceiro comercial tóxico. Para se ter uma noção, no pacote de sanções imposto em agosto de 2024, ainda no governo Biden, 95 empresas de países terceiros eram afetadas pelas medidas restritivas anunciadas pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Nessa mesma ocasião, os norte-americanos expressaram insatisfação com parceiros da Rússia que estariam fornecendo itens de uso duplo para a indústria militar russa e, portanto, auxiliando o esforço de guerra de Moscou. De acordo com o Secretário Adjunto do Tesouro à época, Wally Adeyemo:

"A Rússia transformou sua economia em uma ferramenta a serviço do complexo militar-industrial do Kremlin. As ações do Departamento do Tesouro hoje dão continuidade aos compromissos assumidos pelo presidente Biden e seus homólogos do G7 para interromper as cadeias de suprimentos e os canais de pagamento da base militar-industrial da Rússia (... ) Empresas, instituições financeiras e governos de todo o mundo precisam garantir que não estejam apoiando as cadeias de suprimentos militar-industriais da Rússia."

Ainda no governo Biden, o Secretário de Estado, Antony Blinken, em viagem à China, declarou que os Estados Unidos poderiam impor sanções à economia chinesa caso itens de uso duplo continuassem chegando até a indústria militar da Rússia. Embora Donald Trump tenha prometido acabar com o conflito e apavorou uma parte da classe política dos Estados Unidos ao indicar que as relações com a Rússia seriam normalizadas, o presidente não revogou nenhuma as ordens executivas relativas às sanções de Biden e impôs tarifas à Índia em razão da compra de petróleo e armamento russo.

Hoje, a Rosneft e a Lukoil são responsáveis pela produção da metade de petróleo da Rússia. Se as duas gigantes petrolíferas tinham sido poupadas como forma de evitar uma disparada nos preços internacionais de petróleo, algo nocivo para a própria economia dos Estados Unidos, Donald Trump indicou que pretende abandonar a estratégia de atacar apenas parcialmente o setor energético da Rússia.

As novas sanções impostas pela União Europeia e pelo Reino Unido também miram esse setor. Os europeus buscam zerar gradualmente a compra de GNL (gás natural liquefeito) da Rússia e, em julho, decidiram por um novo teto no preço do barril russo, hoje 15% abaixo do preço internacional. Os europeus também miram empresas da China que, de acordo com eles, ajudam Moscou a contornar as sanções sobre bens militares.

Europeus e norte-americanos estão fazendo um trabalho em conjunto, assim como ocorreu em 2014 e 2022. Quando o Departamento do Tesouro anunciou as novas medidas contra a Rosneft e a Lukoil, uma equipe europeia estava em Washington.

A resposta da Rússia

A Rússia insiste que ao invés de um cessar-fogo, quer uma solução de longo prazo que não somente reconheça a realidade do campo de batalha, mas também que atenda suas garantias de segurança, isto é, a neutralidade Ucrânia e a não adesão do país à OTAN.

Pelo lado europeu, fica absolutamente claro que eles não desejam sequer mediar o fim do conflito. Além de abastecerem a Ucrânia com armas, apoiam politicamente Vladimir Zelensky. E por mais que alimentar um conflito com a Rússia pareça irracional do ponto de vista do abastecimento energético da Europa, a aposta é em uma escalada do conflito e não o contrário. Pelo lado norte-americano, vai ficando claro que Donald Trump finalmente pode rasgar a fantasia de mediador e defensor da paz. Sobretudo depois que os países da OTAN firmaram o compromisso de elevar para 4% seus gastos em defesa, uma demanda do próprio Trump. Na prática e pelo menos no curto prazo, significa comprar mais armas dos Estados Unidos.

Vladmir Putin admitiu que as novas sanções representam mais um golpe na economia da Rússia, mas também reconhece, assim como muitos analistas preveem, que as novas medidas não têm poder de exercer pressão econômica significativa e se converter em um fator essencial para mudar a atual política da Rússia em relação ao conflito com a Ucrânia.