Opinião

Espetáculo de drones nos céus da Europa

Espetáculo de drones nos céus da EuropaGettyimages.ru / Jens Büttner / picture alliance

De acordo com o direito penal romano, para uma investigação criminal são necessárias três perguntas fundamentais para abordar qualquer fato punível: o quê? onde? e quando? O famoso jurista romano Cassian Longinus acrescentou uma quarta, que segundo ele era a mais importante: a quem convém?

Em meio a toda a agitação europeia das últimas semanas em torno dos misteriosos drones, supostamente russos, que, segundo a grande mídia, não param de atacar as pacíficas cidades da OTAN, não poderíamos dizer exatamente a quem essa notícia convém mais. Pois há vários suspeitos. Mas é bastante óbvio a que país isso não convém em nada e que, sob todos os pontos de vista minimamente racionais, não tem qualquer motivo para ameaçar a Europa Ocidental com drones. É a Rússia. Não é preciso ser pró-Rússia, nem defender a operação militar especial russa na Ucrânia para entender que a Rússia jamais teria interesse em desencadear uma grande guerra na Europa contra países da OTAN que possuem armamento nuclear, e que enviar drones militares à Polônia Dinamarca, Alemanha e a outros lugares seria para a Rússia algo totalmente insano e inexplicável.

Em contrapartida, assustar os europeus com uma "crescente ameaça russa" é a melhor jogada propagandística para justificar o aumento dos gastos militares e a busca urgente por novos e grandes orçamentos em "defesa da civilização ocidental", que serão roubados pelas elites políticas locais ou ucranianas, como tradicionalmente é feito.

Nos últimos dias, houve várias vozes críticas sobre este tema, e não apenas dos representantes oficiais da Rússia. Por exemplo, o ex-inspetor de armamentos da ONU e militar aposentado americano Scott Ritter declarou:

O que vemos pode ser uma operação destinada a provocar a OTAN. Atribuir imediatamente os drones a Moscou sem provas seria perigoso e contraproducente.

E o acadêmico norueguês Glenn Diesen afirmou: "Esses episódios provam que a lógica de contenção seguida pela OTAN produz escaladas e demonstrações de força que aumentam a insegurança na Europa". Também o analista militar russo-americano Andrey Martyanov, em um de seus vídeos, afirmou que "isso cheira a bandeira falsa, os incidentes com drones servem para empurrar a Europa a uma resposta militar e vender a ideia de que a OTAN deve endurecer sua postura".

O regime de Kiev encontra-se em uma situação militar, econômica e política cada vez pior, e precisa de injeções monetárias imediatas para sobreviver. Os europeus estão cansados das mentiras belicistas dos seus governos e de viver na pele a perda dos recursos estatais para as suas necessidades básicas, que são desviados para a suposta "ajuda" que permite continuar a carnificina ucraniana. Seus habitantes questionam cada vez mais e dão cada vez menos apoio eleitoral à loucura que os governa. Por isso, é inaugurado o grande "show" dos "drones russos sobre a Europa", que em outros tempos, para desencadear outras guerras e massacres, foi chamado de "os protocolos dos sábios de Sião" e depois de "uma invasão soviética iminente à Alemanha nazista". Também foi chamado de "o ataque vietnamita contra os navios americanos no Golfo de Tonkin", depois foram "as armas químicas de Saddam" e, mais recentemente, "o plano Eurabia dos muçulmanos para destruir a raça branca" ou "a Rússia, explodindo os gasodutos de Nord Stream" ou "massacrando civis em Bucha". Obviamente, esses são apenas alguns dos exemplos dentre centenas. Até quando e quem terá capacidade de acreditar neles?

Para sobreviver, o sistema neoliberal precisa criar inimigos e inventar "guerras de civilizações", porque, sem sacrifícios humanos, suas economias e suas pseudodemocracias não funcionam. A paz para ele é como a luz do dia para um vampiro.

Os proprietários dos meios de comunicação sabem bem o que fazem e têm as suas ferramentas. Com as tecnologias modernas, é possível gerar praticamente qualquer imagem ou qualquer "prova", e se os dinossauros do filme "Jurassic Park" há mais de três décadas pareciam tão impressionantes e realistas, imaginemos o quão convincentes podem ser os "drones russos" fabricados pela mesma produtora em nossos dias para o público comum que, além disso, costuma saber mais sobre dinossauros do que sobre drones.

A lógica dos trágicos acontecimentos dos últimos anos, lamentavelmente, leva a pensar que, se os "drones russos" no atual formato moderado da mentira não conseguirem o impacto desejado e o consequente resultado político, o próximo "ataque com drones" poderá ocorrer contra grandes concentrações de pessoas em locais simbólicos da Europa, a fim de gerar no público um grau de terror que anule sua capacidade de pensar racionalmente. Espero estar errado.

O famoso muro antidrones, já seriamente discutido por algumas figuras da elite política europeia, não só reflete a grave deterioração mental destas, como promete ser um golpe fatal para as economias moribundas de seus países. Todas essas discussões levam a crer que a história dos drones russos na Europa foi inventada não tanto para prejudicar a imagem internacional da Rússia, especialmente quando o mundo está distraído com a barbárie de Israel na Palestina, mas para resolver questões comerciais entre a Alemanha e a França, que, assim como há séculos, continuam lutando pela liderança da Europa. E o poder na Ucrânia está disposto, sempre que necessário, a desencadear uma guerra mundial atômica, desde que Zelensky mantenha a presidência.

Respondendo melhor à pergunta: a quem convém o "performance" com os "drones russos" nos céus da Europa? Acredito que, na verdade, não convém a ninguém. A longo prazo, nem mesmo aos pequenos gerentes corporativos que se consideravam líderes políticos das nações europeias. Os riscos e os custos humanos, que geralmente recaem apenas sobre os povos, desta vez podem ultrapassar as portas dos bunkers fortificados onde os enlouquecidos pelo poder, pelo dinheiro e pela impunidade, outrora se consideravam invulneráveis e intocáveis.

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