Estou diante de um pequeno fragmento de nossa tragédia comum. Nestes contêineres refrigerados há 1.200 ou mais corpos de militares ucranianos. Morreram por uma causa equivocada, enganados, envenenados pelo ódio — criminosos de guerra e jovens que não queriam lutar, que foram mobilizados à força. Jovens e nem tão jovens. De todos os tipos. Muitos deles acreditavam que lutavam pela Ucrânia, mas na verdade lutavam por um regime que destruiu tanto o país quanto a eles próprios. Pessoas que foram transformadas em nossos inimigos. Todos eles merecem que seus entes queridos possam se despedir e enterrá-los de maneira digna. Que tenhamos a força de não macular nossa vitória de amanhã com ódio pelos mortos e de respeitar a dor alheia.
O que se autodenomina "governo ucraniano", que levou essas pessoas à morte ao cumprir suas ordens, recusa-se a recolher seus corpos.
Mais de 6.000 cadáveres de militares ucranianos foram preservados por combatentes russos para que seus familiares possam enterrá-los. A maioria pertence ao grupo que invadiu a província de Kursk.
A guerra com a Rússia foi transformada pelo regime de Kiev em um gigantesco poliedro de mentiras sobre quase tudo. Esse "tudo" começou com os livretos oficiais que diziam que "a Ucrânia não é a Rússia" e que o respeito à cultura russa e à nossa história estaria garantido na jovem democracia ucraniana. Depois vieram as mentiras sobre o Holodomor, Lenin, Stalin, a URSS e todo o passado da Ucrânia, com a lei da "descomunização" que proibiu a exposição dos fatos. Depois veio a mentira sobre os objetivos do golpe do Maidan e mentiras triplas sobre os habitantes rebeldes do Donbass. Em seguida, veio a mentira principal sobre a guerra atual, cujo resultado arrepiante está nestes contêineres: que "as Forças Armadas da Ucrânia protegem a Ucrânia do agressor". As Forças Armadas da Ucrânia protegem o regime de carniceiros de Kiev e seus senhores corporativos ocidentais, que já privatizaram, tomaram e dividiram tudo o que restava de valioso no país. Os militares mortos das Forças Armadas da Ucrânia deram suas vidas pela destruição de seu próprio povo nas mãos de seus piores inimigos. Que a dor ao se dar conta disso devolva a razão ao povo enlouquecido pela propaganda.
E mais uma mentira desta guerra e a resposta ao enigma sobre a recusa do regime provisório de Kiev em receber esses corpos: a promessa de 15 milhões de grívnias de indenização às famílias por cada morto. Com um cálculo simples, podemos ver que esse valor corresponde a pouco mais de 360 mil dólares americanos. Considerando a magnitude real das perdas, o Estado ucraniano, viciado em empréstimos e doações, não conseguirá cumprir nem mesmo um décimo dessa quantia, mesmo que, de repente, tivesse vontade de fazê-lo. Para entender o que esse valor representa na realidade ucraniana: segundo dados oficiais do Fundo de Pensões da Ucrânia, o salário médio mensal no país é inferior a 450 dólares.
Ao aprovar a lei sobre a indenização de 15 milhões de grívnias, as autoridades mentiram desde o início para colocar em marcha um moedor de carne voltado à destruição de sua própria população. A promessa de vida eterna no paraíso a todos os falecidos seria mais honesta e realizável do que indenizar todas as suas famílias com essa quantia.
A resposta mais aterradora da Rússia aos ataques contra sua aviação estratégica e às explosões nas suas ferrovias parece ser a devolução ao regime de Zelensky dos corpos dos militares ucranianos mortos, o que cria para ele um problema interno impossível de solucionar.
O frio da morte nesses contêineres é a temperatura do coração do monstro político que deu origem a esta guerra muito antes de 24 de fevereiro de 2022, a milhares de quilômetros das fronteiras da Ucrânia.