Pretendo com este artigo analisar o resultado da cúpula ocorrida no dia 15 de agosto em Anchorage, a maior cidade do Alasca, a primeira acontecida nesta segunda gestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ela é a quinta vez que eles se encontram.
O presidente russo, Vladimir Putin, já chegou vitorioso à reunião, seja do ponto de vista militar seja do ponto de vista diplomático e político. Ele jamais se dobrou a nenhuma pressão feita pelo chefe do imperialismo por cima dele ou, como disse o New York Times no dia 15 de agosto, que os líderes europeus estavam indo aos EUA para fala "em cima das orelhas de Trump". Ou seja, tentariam mudar as suas opiniões sobre a Ucrânia.
Nenhuma das reivindicações ou "exigências" dos Estados Unidos foi atendida. Então, pode-se dizer que o vitorioso da reunião foi Vladimir Putin e a Federação Russa. Não podemos dizer que os Estados Unidos foram derrotados também. Só pelo fato de a reunião ter acontecido, é positivo, porque as relações bilaterais tinham ficado muito estremecidas nos últimos dias, com uma elevação de tensão.
Trump havia voltado a fornecer armas para a Ucrânia. Parecia, eventualmente, estar se tornando um "novo" Biden, que era tudo o que ele não queria. E, manifestadamente, ele vinha reiterando que se presidente fosse a guerra não aconteceria e que assim que tomasse posse ele pararia aquela guerra. Mas isso era um desejo que não se confirmou.
Ao final da reunião, no tradicional pronunciamento, Putin leu um documento escrito, provavelmente, entre o término da reunião e o início do pronunciamento. Ele falou durante oito minutos. Fez um grande pronunciamento. Um belo discurso que eu recomendo que todos assistam.
Depois dele, Trump falou de improviso. Ele não sabia o que falar. Não preparou a sua fala. Não tinha o que dizer, porque não tinha nada a mostrar para o seu público interno. Vladimir Putin, que fala um inglês fluente e outras, disse ao Trump no final: "Senhor presidente, nosso próximo encontro precisa ser em Moscou, na Rússia". Ao que Trump lhe respondeu: "É, serei muito criticado por isso. Mas vejo que pode acontecer".
Este encontro produz um degelo, digamos assim, um distensionamento e a volta a um patamar que era desejável desde o início desta gestão, que estavam muito boas no começo.
A administração de Joe Biden foi um desastre, com uma política externa desastrosa, promotora de guerras. Então, era desejo do presidente Trump que a relação com a Rússia fosse muito boa desde o começo, mas não foi possível. E a sua gestão completa sete meses neste dia 20 de agosto. Houve esse tensionamento, mas agora espera-se um distensionamento. E por que o Alasca foi escolhido para sediar o encontro?
Eles devem ter decidido de comum acordo depois de muitas nações ofereceram seu território para sediar a cúpula, especialmente, os Emirados e a Arábia Saudita, que tem toda uma infraestrutura com hotéis sete estrelas e não são signatários do tratado do Tribunal Penal Internacional-TPI, que tem um mandado de prisão expedido contra aquele que, sem dúvida, hoje o maior estadista vivo no mundo, Vladimir Putin.
O Alasca já foi um território russo. Ele foi vendido pela família Romanov em 1867, quando era presidente dos Estados Unidos, Andrew Johnson e o seu secretário de Estado era William Seward que mediou o negócio de 7,2 milhões de dólares.
O Alasca é um território, digamos assim, terra de ninguém. Tem hoje uma população de 733 mil habitantes e é o maior estado dos Estados Unidos em área territorial. Ali moram também várias populações originárias em torno de 100 mil, como: Inupiat, Yupik, Aleut, Eyak, Tlingit, Haida e Tsimshian.
Mas, é preciso dizer, pouca gente sabe que aí nesse estado moram russos étnicos ainda da época da Rússia, e que são em torno de 10 mil. E, Vladimir Putin, no seu discurso de oito minutos na coletiva de imprensa, que não foi propriamente uma coletiva, lembrou que Estados Unidos e União Soviética lutaram juntos na Segunda Guerra. Isso foi muito importante. Há muitos soldados soviéticos enterrados no Alasca e, o presidente Putin, visitou os seus túmulos e depositou flores em respeito à memória desses combatentes.
Assim como tem soldados americanos enterrados na Rússia. Vladimir Putin chamou Donald Trump de "vizinho": "Olá vizinho, que bom que você esteja bem de saúde e vivo". E são de fato, vizinhos. O Estreito de Bering e os territórios são separados por 49 km de mar. Se você for se basear nas ilhas, a última ilha russa e a primeira ilha americana, que são os últimos territórios de cada país, a distância é apenas quatro km. É uma história muito interessante e talvez, o Alasca tenha sido escolhido por esta relação próxima entre as duas potências.
Não podemos deixar de registrar que Vladimir Putin chegou com um conjunto de cinco assessores de altíssimo nível, totalizando seis a sua delegação. Ele aterrissou na Base Aérea Elmendorf-Richardson, em Anchorage onde o presidente americano já o esperava.
Trump estendeu um tapete vermelho para o presidente da Federação Russa, recebendo-o com todas as honrarias de chefe de Estado. E, ao cumprimentar, apertou com as duas mãos. Quando alguém usa as duas mãos demonstra respeito e afeto muito grandes pela pessoa com quem está se encontrando.
Na chegada da delegação Vladimir Putin veio no avião presidencial Iliuchin II 96, junto com seu ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov, que ingressou na carreira diplomática em 1972, jovem com 18 anos. Talvez seja o ministro das relações exteriores mais longevo. Ele chegou ostentando uma camisa com a sigla CCCP, que significa URSS, União das Repúblicas Soviéticas Socialistas. Isso provocou um frisson na mídia internacional que só falou disso antes da reunião.
A camiseta com a sigla soviética é uma roupa informal que se usa na Rússia, ou que se usa em casa. Mas, que mensagem ele quis passar? Talvez que estivesse em casa no Alasca. O Alasca já foi russo e, eu sou da Rússia e quem sabe "estamos" voltando. Talvez essa tenha sido a mensagem.
A estrutura da reunião
A estrutura da reunião estava montada para em um primeiro momento, ser três a três, nunca sozinhos. Três a três, sem contar os tradutores. Então, seriam: Putin, com Lavrov e Yuri Ushakov e Trump com Marco Rúbio e Steve Witkoff.
A primeira parte do encontro durou quase três horas. A segunda parte seria mais algumas horas. As equipes fariam comissões, grupos de trabalho e teriam mais algumas horas de reuniões. Mas, eles decidiram cancelar a segunda parte. Não se sabe ainda os motivos, mas não seria uma reunião única.
A fala de Putin
O pronunciamento do presidente Putin foi muito bem elaborado. Ele enaltece os Estados Unidos, mesmo esse tendo se comportado como um escolar de quinta série nos últimos tempos, como é típico do Donald Trump. Ele não se comporta como um estadista ao ameaçar com sanções à Rússia que já tem 20 mil sanções a ela impostas. E voltou a fornecer armas para a Ucrânia, e agora dialoga com o país que ele ameaça e que ele fornece armas.
Por isso, Vladimir Putin é um grande estadista. Em termos de coletiva, ele disse tudo o que tinha que dizer. Citando Carl Clausewitz, que escreveu "Da Guerra" (escrito entre 1816-1830), um livro altamente complexo, de onde se extrai a frase mais famosa dele, que é: a política nada mais é do que a guerra levada de outras formas às últimas consequências.
Então, Vladimir Putin conseguiu fazer uma reunião diplomática de alto nível, sem interromper uma guerra, como era a exigência número um da mídia ocidental e do imperialismo americano. Tem que parar a guerra e nós temos que arrancar um cessar-fogo para começar a conversa. Mas, o cessar-fogo não está no horizonte da Federação Russa. Isso ele deixou claro.
Análise dos acontecimentos
Há uma música no Brasil, cuja letra começa assim: "naquela mesa tá faltando ele..." Pois, nessa mesa, a União Europeia-UE ficou de fora. A Ucrânia também ficou de fora. Não deveria estar presente, porque a Ucrânia não é absolutamente nada. A Ucrânia aceitou ser procuradora de uma guerra ou, dito em outras palavras, aceitou ser testa de ferro dos Estados Unidos. O que é uma guerra por procuração? É assim, os Estados Unidos na gestão Biden, 2022.
Dizem para Zelensky, ele que foi eleito em um programa de paz para pacificar a região do Donbass. Esse era o seu programa. Por isso ele venceu as eleições. Os Estados Unidos, através de Biden, perguntaram: você topa enfrentar a Rússia? Nós sabemos que você jamais vencerá, que você vai perder milhares, centenas de milhares de soldados e civis, correndo o risco de perder uma parte do seu território, de abalar sua economia. Mesmo assim, você topa entrar nessa guerra por procuração? Nós vamos te dar todo o dinheiro do mundo, todas as armas necessárias via OTAN.
Você topa enfrentar a Rússia por uma guerra que ninguém sabe quanto tempo vai durar? Zelensky responde: "Eu topo". Esta é uma guerra por procuração.
Ele topou ser testa de ferro dos Estados Unidos. Para quê? Não é para derrotar a Rússia. Porque os Estados Unidos sabiam que a Rússia não poderia ser derrotada. Quando eu falo que Putin chega vitorioso à cúpula, é porque ele hoje tem o maior exército do mundo e o mais preparado. Não adianta os Estados Unidos terem o maior exército do mundo e dizer que é o mais forte.
Faz quanto tempo que eles não entram em uma guerra? É um exército descontraído, sem prontidão. Eles têm um sistema chamado Defcon, (defense condition), nos níveis 1, 2, 3 e 4. Que nível está o sistema de prontidão deles hoje? Um, dois? Guerra contra quem eles fazem com as suas 840 bases, drenando um trilhão de dólares da economia americana, cujo deficit chegou a 37 trilhões, na balança comercial, no déficit interno, na dívida. Isso drena o país, isso sangra o país. Não adianta afirmar que o exército é poderoso. Mas e daí?
Ao contrário, o da Rússia está "afiado", tem armamento quente, literalmente, ainda está saindo fumaça. E na linha de frente, todos os generais que analisam dizem que está desmoronando a resistência ucraniana. Como diz Viktor Orbán, a Rússia não está vencendo a guerra. A Rússia já venceu a guerra. E quem assistiu a coletiva viu que o pano de fundo da coletiva estava escrito persuit peace (perseguindo a paz), eles escolheram um verbo no gerúndio.
Escolheram o verbo certo. Não estavam fazendo mesmo nada de paz ali, porque dali não sairia a paz. Eles sabiam disso. Ninguém dobra o Vladimir Putin. Não sairia sequer um cessar-fogo, porque a Rússia não concorda com essa proposta. A Rússia não concluiu a conquista de todas as cidades das quatro províncias já anexadas.
O grande perdedor nisso é esse bloco intergovernamental que atende pelo nome de União Europeia. E a grande perdedora é essa senhora protofascista chamada Úrsula von der Leyen e agora, a nova ministra das Relações Exteriores da Europa, a estoniana Kaja Kallas, que já declarou que o sonho dela é dividir a Rússia em quatro pedaços.
Então, a grande perdedora não foi chamado à mesa, não foi convidada para o convescote de dois. O segundo perdedor, esse anão, literalmente, porque ele deve ter 1,60 m, Vladimir Zelensky. A UE é a grande financiadora da guerra na Europa. O Trump conseguirá convencer a União Europeia a parar a guerra? Tenho dúvidas. Ele disse na "coletiva" que ligaria para o "presidente" da Ucrânia e para a UE, relatando o que foi a reunião.
O primeiro-ministro da Inglaterra, Keir Starmer disse que está à disposição e que apoia a continuidade e, se houver a paz, ele se oferece para mandar soldados para a Ucrânia. Não, senhor primeiro-ministro. Jamais a Rússia aceitará um soldado sequer de qualquer nação da UE. A Ucrânia será declarada território neutro e seu exército será transformado em um exército parecido com que foi o Japão e a Alemanha do pós-guerra de 1945. O senhor está enganado. Nem a França, nem a Inglaterra, nem a Alemanha, ninguém.
E esse primeiro-ministro da Alemanha Merz diz que está mandando agora mísseis Taurus, que são de médio alcance. Eles conseguem atingir uma parte significativa do território russo, em especial a sua capital, Moscou. Se a Ucrânia disparar esses mísseis alemães para território russo, que seriam feitos a partir de técnicos militares alemães, a Rússia teria que declarar guerra à Alemanha. Isso joga o conflito para quase uma guerra mundial. Isso é de uma irresponsabilidade desse senhor que faz dois meses que tomou posse como primeiro-ministro. É uma barbaridade uma coisa dessa. Espero que isso não aconteça.
Vamos ver se o Donald Trump reúne forças suficientes usando o poder do Estado dos Estados Unidos para impor a sua vontade, o seu desejo sobre esse bloco intergovernamental, que é um bloco pela guerra.
Antes de ir para as conclusões, eu não poderia deixar de resumir quais são as reivindicações que a Federação Russa já apresentou. Antes da reunião se falou muito em troca de territórios.
Mas qual troca mesmo de territórios? O que que a Rússia pode devolver para a Ucrânia? Absolutamente nada. Talvez aquela região de Kursk? Ela entrou no território e tomou umas áreas em Kharkov, pequenas etc. Mas, as quatro províncias do Donbass, já foram anexadas ao território russo. O mapa da Rússia já foi modificado.
A Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento russo) já aprovou o novo contorno das fronteiras russas com a Ucrânia. A guerra pararia hoje se o Zelensky retirasse unilateralmente os últimos soldados em algumas cidadezinhas, nas províncias de Kherson e Zaporozhie. Há ainda algumas cidadezinhas onde têm confrontos. A reivindicação número um da Rússia é o reconhecimento da soberania russa sobre as quatro províncias e sobre a Crimeia. Se atender, a guerra para. Zelensky não fará isso.
O número de soldados ucranianos mortos é muito controverso. Eu chego a trabalhar com o número de 700 mil. Nos canais do Glen Dissen e do Pascal Lotaz, que tem versões em português por inteligência artificial, estimam-se que na Ucrânia podem ter morrido até 1,5 milhão de ucranianos entre civis e militares. Eu acho que não é tudo isso. Mas, não são só soldados, envolve civis. Mas, são perdas imensas, sem falar nos seis milhões de refugiados que a Europa teve que absorver.
A segunda reivindicação mais importante é a neutralidade total da Ucrânia. A terceira é a neutralidade nuclear. A quarta é a total liberdade e direitos das populações falantes de russo. A Constituição ucraniana fala que a Ucrânia é um país bilingue. Ou seja, russo e ucraniano são as línguas oficiais. Quando um país tem duas línguas oficiais, significa que qualquer cidadão possa peticionar em uma repartição pública em uma dessas duas línguas. Eles, no entanto, baniram o russo da Ucrânia. Você só pode peticionar em ucraniano. O russo foi proibido pelo governo Zelensky.
A quinta reivindicação russa é que o Poder Legislativo ucraniano deve aprovar leis que possam banir a glorificação do nazismo. Tem leis que glorificam o nazismo. Por exemplo: o dia do nascimento do principal líder nazista ucraniano, Stephan Bandera (1º de janeiro de 1909), era feriado nacional. Tinha sido banido, mas retornou.
Outras reivindicações importantes são:
- Renúncia mútua com relação aos danos causados e às suas respectivas indenizações. Então, os dois lados renunciam aos pedidos de indenizações. Tanto a Ucrânia vai pedir para a Rússia renunciar à indenização quanto vice-versa;
- Suspensão de todas as restrições à igreja ortodoxa russa. A Ucrânia proibiu uma igreja de funcionar só porque ela é russa;
- Retirada das forças armadas de todas as aldeias e cidades nas quatro províncias do Donbass que ainda existem;
- Cessação da mobilização militar, do recrutamento forçado e da convocação de reservistas. Isso a Ucrânia continua fazendo;
- Abolição da lei marcial e convocação de eleição presidencial. Lembrando que o mandato de Zelensky venceu desde 20 de maio de 2024.
Estas são as reivindicações da Rússia no que diz respeito à Ucrânia.
Existem, por fim, três reivindicações que não dependem da Ucrânia para serem atendida. São elas: todas as sanções impostas à Rússia devem ser levantadas; cessação de todos os envios de armamentos do Ocidente para a Ucrânia; cessação de toda a presença militar ocidental na Ucrânia, que existe, não são soldados regulares, mas são conselheiros militares e assistentes.
Conclusões
A conclusão que eu quero deixar é que outras reuniões irão ocorrer e, agora sim, com a participação de mais atores, provavelmente a UE e a Ucrânia e vão seguir juntos representantes dos Estados Unidos e da Rússia.
Mas, quero dizer que o cessar-fogo não está no horizonte, salvo que a reivindicação número um, o reconhecimento da soberania nas quatro províncias, casado com a retirada total militar da Ucrânia, das últimas cidades que ainda têm presença nas quatro províncias, isso sendo atendido, a guerra de fato para e vai haver um cessar-fogo. Assim, pode haver um tratado de paz imediatamente.
Acho difícil que os EUA venham a radicalizar a guerra, radicalizar as posições com a Rússia depois dessa recepção de estado oferecida ao presidente Putin. Tudo que Trump menos quer no momento é um rompimento com a Rússia, apesar de toda a pressão a União Europeia.
Zelensky encontra-se em uma encruzilhada. Sua Ucrânia – por sua única culpa e risco – encontra-se devastada. A sua pirâmide populacional está deformada completamente, tal qual a população paraguaia esteve na década de 1860, quando praticamente foi dizimada a população jovem daquele país. A sua economia está destruída. Ele está isolado. Resta-lhe o exílio e a prisão.
Devem ocorrer eleições gerais no país. Ele não deve concorrer. Se concorrer, deve perder e feio. Pesquisas mostram que 70% da população quer o fim da guerra. Os EUA querem sair desse guerra que não deveria ter sequer começado, segundo Trump.
Ele deve acabar em breve. Sem data ainda. Mas seu fim, já está no horizonte visível.