A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) usou 887 vezes, de forma ilegal, um software espião israelense durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para obter dados sobre adversários e até aliados políticos.
A denúncia foi apresentada recentemente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e revelada pelo Poder360.
O programa, chamado First Mile,foi fornecido pela empresa israelense Cognyte e adquirido no fim do governo de Michel Temer.
De acordo com a investigação, o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que respondia diretamente ao policial federal Marcelo Araújo Bormevet, "foi diretamente responsável por 887 pesquisas no sistema First Mile, além de outros possíveis acessos realizados por meio de senhas compartilhadas".
"ABIN paralela"
Um dos pontos do documento trata da existência de uma "Abin paralela", descrita como um "meio digital para atacar opositores e o sistema eleitoral, no curso das iniciativas corrosivas das estruturas democráticas".
Segundo a denúncia, "a ferramenta era utilizada para obter a localização dos personagens-alvo que, de alguma forma, contrariavam os interesses da organização criminosa".
Acusações contra Bolsonaro
No dia 18 de fevereiro, a PGR concluiu a denúncia e indiciou Bolsonaro e outras 33 pessoas, por articular uma tentativa de golpe para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.
A delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, aponta que a preparação para o golpe ocorreu entre 2022 e 2023, com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro foi denunciado pela PGR por cinco crimes, entre eles organização criminosa armada e tentativa de golpe de Estado. Novas linhas de investigação seguem em curso.
O Supremo Tribunal Federal (STF) pretende julgar o ex-presidente antes do processo eleitoral de 2026 para evitar impactos no processo eleitoral.