
Saiba quem é Friedrich Merz, líder do partido vencedor das eleições parlamentares da Alemanha

Friedrich Merz, líder do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), é o candidato com mais chances de se tornar o próximo chanceler da Alemanha após Olaf Scholz perder um voto de confiança do Parlamento, o que abriu caminho para a realização de eleições antecipadas que ocorreram neste domingo (23).
De acordo com as pesquisas e resultados preliminares, a aliança da CDU com a União Social Cristã (CSU) da Baviera é quem possui o maior apoio popular na Alemanha, à frente do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e do Partido Social Democrata (SPD) de Scholz.
Se for escolhido pela coalizão de partidos, Merz, 69, assumirá o governo em um momento crítico para o país, que enfrenta estagnação econômica e falta de investimentos em sua indústria e infraestrutura, além das incertezas que pairam sobre suas relações com os EUA em meio ao conflito na Ucrânia.

Advogado de formação e tendo exercido a profissão no setor privado, Merz se descreve como conservador e liberal. Enquanto aguarda o programa eleitoral da aliança conservadora, o político prometeu reduzir impostos para o setor empresarial, diminuir a burocracia e cortar benefícios sociais, especialmente para imigrantes.
Na política externa, ele garantiu que continuará apoiando a Ucrânia. Ao contrário de Scholz, que se opõe à entrega dos mísseis Taurus a Kiev para evitar um confronto direto com a Rússia, o político conservador defende o fornecimento destes armamentos para a Ucrânia. Merz também se manifestou a favor da restauração do serviço militar obrigatório na Alemanha, que foi abolido em 2011.
Pessoas próximas ao político o descrevem como direto e pragmático, qualidades que podem ser úteis para estabelecer relações com o presidente dos EUA, Donald Trump, a quem Merz certa vez rotulou de "antidemocrático" por protestar contra os resultados das eleições em janeiro de 2021.
Apoiador da OTAN, Merz liderou por uma década a Atlantik-Brücke, uma associação que busca promover a cooperação entre a Alemanha e os EUA. Os Estados Unidos são o maior mercado para as exportações alemãs e as tarifas que Trump ameaça impor prejudicariam gravemente a economia do país, algo de que Merz está bem ciente, observa o The Washington Post.
Merz tem um histórico de rivalidade com a ex-chanceler e líder da CDU, Angela Merkel. Depois de denunciar sua "política de portas abertas" sobre migração, Merz prometeu se distanciar da postura moderada de sua antecessora.
Entre os negócios e a política
Pai de três filhos, Merz vem de uma família católica da região rural de Sauerland, na Renânia do Norte-Vestfália.
Sua carreira política teve início em 1972 quando se filiou ao União de Jovens da Alemanha, associado ao CDU. Em 1989, aos 33 anos de idade, tornou-se membro do Parlamento Europeu.
Em 1994, foi eleito para o Bundestag (Parlamento alemão), onde se tornou um membro influente da coalizão parlamentar CDU/CSU, que chefiou entre 2000 e 2002, sendo posteriormente substituído por Merkel. Após perder a disputa pela liderança da sigla para a futura chanceler alemã, se afastou gradualmente da política e deixou o Bundestag em 2009.
Essa ruptura política lhe rendeu recompensas comerciais, pois ele se tornou membro do escritório de advocacia internacional Mayer Brown, tendo ocupado cargos seniores em vários conselhos consultivos e administrativos, incluindo o de presidente do conselho de supervisão do braço alemão da Black Rock, a maior empresa de investimentos do mundo.
Merz retornou ao Bundestag em 2021 após a aposentadoria de Merkel, conquistando a liderança do partido um ano depois em sua terceira tentativa.
"Estão envergonhando a Alemanha"
Em setembro passado, o político havia prometido concorrer ao cargo de chanceler nas próximas eleições "com a firme intenção de retomar a responsabilidade pelo país" e seguir a política que "impulsionará a Alemanha" e "colocará o país de volta nos trilhos", restaurando o "orgulho" alemão.
Em discurso na televisão, Merz se referiu aos filhos de imigrantes muçulmanos como "pequenos paxás" que não respeitam seus professores. Ele também foi criticado ao acusar alguns refugiados ucranianos de praticarem "turismo de bem-estar social", alegando que estes tiram vantagem dos benefícios europeus e não procuraram trabalho. Posteriormente, Merz se retratou e pediu desculpas pelo que chamou de "descrição imprecisa" de alguns casos individuais.
Embora o político tenha expressado recusa em cooperar com o partido de direita AfD (Alternativa para a Alemanha), ainda não se sabe com quem ele deverá construir uma aliança se conseguir substituir a coalizão minoritária do SPD (Partido Social-Democrata, de Scholz) e dos Verdes.
Discursando no Bundestag antes do voto de confiança ao governo de Scholz, Merz descreveu o evento como "um dia de alívio" para a Alemanha. Em sua fala, o político criticou o atual chanceler alemão dizendo que Scholz "perdeu a sua chance", "falhou a nível da União Europeia" ao mergulhar o país em uma de suas maiores crises econômicas do período pós-guerra e por "envergonhar a Alemanha".