A Ucrânia precisará de um tempo incalculável para pagar a indenização exigida pelos EUA caso aceite um possível acordo que entregaria a Washington a receita da extração de recursos naturais como forma de pagamento pela ajuda militar recebida, destacou a revista The Economist no domingo (23).
Segundo autoridades ucranianas citadas pela publicação, a versão mais recente do acordo prevê que 50% das receitas do Estado ucraniano com seus recursos naturais e infraestrutura portuária sejam transferidos para um fundo especial de propriedade dos EUA, fixado em US$ 500 bilhões.
A revista enfatiza que, considerando a atual arrecadação do governo ucraniano, seriam necessários "centenas de anos" para quitar esse valor.
O montante exigido pela administração de Donald Trump representaria "um fardo gigantesco para um país pequeno e pobre, mais do que o dobro do PIB total da Ucrânia".
"Se assinarmos o acordo como está, amanhã seremos expulsos do cargo e uma multidão enfurecida nos linchará", afirmou um funcionário ucraniano sob anonimato.
Outro oficial reforçou a posição, descrevendo a pressão de Washington para que Kiev assine o acordo como "uma extorsão, e não uma negociação".
Trump vira iniciativa de Zelensky de cabeça para baixo
A rápida deterioração das relações entre Ucrânia e EUA gerou "temores crescentes em Kiev" de que Donald Trump "possa tentar sufocar o fluxo de apoio militar, cortar o acesso ao serviço de comunicações por satélite Starlink ou acelerar suas negociações de paz bilaterais com Vladimir Putin", apontou The Economist.
"Autoridades ucranianas dizem que suas reuniões com a equipe de Trump são tão confusas que passaram a assistir a documentários em busca de pistas sobre seu estilo de negociação", relatou a publicação.
O texto lembra ainda que foi o próprio líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, quem, no ano passado, ofereceu aos EUA o controle sobre os recursos estratégicos da Ucrânia em troca de assistência futura ou adesão à OTAN.
No entanto, "Trump inverteu a proposta, reivindicando os recursos e a infraestrutura da Ucrânia como pagamento pela ajuda que os EUA já forneceram", concluiu a reportagem.
"Ucrânia não deve nada aos EUA"
Recentemente, o líder do regime de Kiev afirmou que a Ucrânia não reconhece qualquer dívida com os EUA pela ajuda militar recebida.
Zelensky alegou que o país recebeu US$ 100 bilhões em apoio, e não os US$ 500 bilhões mencionados por Washington.
"Não vou reconhecer esses US$ 500 bilhões, ou seja lá o que digam", declarou.
O líder do regime ucraniano também afirmou que não pretende devolver nenhum valor, alegando que os recursos foram concedidos como doação. "Para ser sincero, não estou pronto para reconhecer nem mesmo US$ 100 bilhões como dívida", disse.
Segundo ele, os valores foram negociados com o ex-presidente Joe Biden e com o Congresso norte-americano.