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Brasileiros sequestrados em Mianmar fogem de rede criminosa após três meses de tortura

Vítimas foram forçadas a aplicar golpes on-line, sofreram punições violentas e escaparam com ajuda de uma ONG.
Captura de telaRedes sociales

Os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira e Luckas Viana dos Santos foram resgatados após passarem mais de três meses sequestrados por uma rede criminosa de golpes cibernéticos em Mianmar, no sudeste asiático.

Em entrevista ao g1, divulgada na terça-feira (18), Ferreira relatou que foi cooptado em novembro de 2024, quando procurava emprego no Uruguai, após receber, por meio das redes sociais, uma oferta para atuar na área de tecnologia em uma empresa na Tailândia.

O brasileiro viajou para o país asiático e, ao ser buscado no hotel onde estava hospedado por um motorista, acabou sendo levado para Mianmar, onde foi feito refém.

No KK Park, em Myawaddy, Mianmar, conhecido como uma "fábrica de golpes on-line" e epicentro de fraudes financeiras, Phelipe encontrou Luckas, que também havia sido enganado por meio de uma oferta de emprego divulgada nas redes.

Fraude implacável

Durante o período em que estiveram em cativeiro, os dois foram obrigados a realizar fraudes on-line, tendo como principal alvo cidadãos brasileiros.

Segundo Ferreira, eles trabalhavam cerca de 16 horas por dia e eram monitorados a cada 10 minutos.

"Se não cumpríssemos as metas estipuladas, no final do mês éramos punidos", afirmou. As punições incluíam choques elétricos, surras ou agachamentos, e Ferreira foi castigado em três ocasiões.

Ele detalhou: "Na primeira vez, tive de fazer 100 agachamentos em uma plataforma equipada com um espigão no topo. O segundo castigo consistiu em 300 agachamentos, e o terceiro, em 500 agachamentos."

Os reféns eram submetidos a uma rotina rígida, obrigados a aplicar golpes em "clientes" brasileiros. 

A fuga

Phelipe e Luckas conseguiram estabelecer contato com suas famílias, que acionaram a polícia e receberam orientações da ONG The Exodus Road, organização internacional de combate ao tráfico de pessoas.

Em 8 de fevereiro, os dois brasileiros escaparam juntamente com cerca de 100 outros reféns. Eles foram detidos por milícias paramilitares de Mianmar e entregues às autoridades tailandesas.

"Agora quero descansar, encerrar minha carreira e iniciar um tratamento psicológico para superar esse trauma", afirmou Phelipe.

Ele também fez um alerta: "Você deve sempre pesquisar a fundo sobre a empresa para a qual pretende trabalhar e verificar sua legitimidade."