Negociações entre os EUA e a Rússia: o que se sabe até agora?

A reunião em Riad será a primeira entre funcionários de alto escalão russos e norte-americanos desde que o conflito na Ucrânia começou há quase três anos.

Delegações de alto nível da Rússia e dos Estados Unidos se reunirão na Arábia Saudita na terça-feira com o objetivo de restaurar as relações diplomáticas e chegar a um acordo sobre o conflito na Ucrânia. A reunião foi proposta na semana passada durante uma ligação telefônica entre Vladimir Putin e Donald Trump.

O que está em pauta?

A reunião se concentrará, em primeiro lugar, na redefinição das relações gerais entre a Rússia e os Estados Unidos. Os preparativos para possíveis negociações para resolver o conflito ucraniano e a organização de uma reunião entre os presidentes da Rússia e dos EUA também serão discutidos, de acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Essa será a primeira reunião entre funcionários de alto escalão da Rússia e dos EUA desde o início do conflito ucraniano, há quase três anos. A Arábia Saudita não apenas será a anfitriã dos representantes dos dois países, mas também assumirá o papel de mediadora.

Quem está participando?

Tanto a Rússia quanto os Estados Unidos nomearam seus principais diplomatas e funcionários para as negociações na capital saudita, Riad. A Rússia será representada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, e pelo conselheiro presidencial para assuntos internacionais, Yuri Ushakov.

Do lado dos EUA, espera-se a presença do Secretário de Estado, Marco Rubio, do Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e do Enviado Especial da Casa Branca para Assuntos do Oriente Médio, Steve Witkoff.

A Ucrânia não estará presente nessas conversas. O líder do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, declarou que seu país não aceitará nenhum acordo que possa resultar dessas discussões. Nenhum diplomata europeu estará presente.

Apesar disso, Marco Rubio comentou que, no futuro, tanto a Ucrânia quanto os países europeus que aplicaram sanções contra Putin e a Rússia "terão que participar" do processo de negociação. No entanto, ele enfatizou que "ainda não chegamos lá".

O que Moscou quer?

Nas próximas conversas com a delegação dos EUA, a prioridade de Moscou é "ouvir" seus parceiros, afirmou Sergey Lavrov. Ele disse que os líderes russos decidirão sobre seus próximos passos após esse diálogo.

Sobre o conflito ucraniano, Moscou tem enfatizado repetidamente que não está buscando um cessar-fogo temporário, mas uma solução permanente e abrangente que aborde as causas fundamentais da crise, que se originou em 2014 após um golpe apoiado pelo Ocidente na Ucrânia. Ele também deixou claro que a Rússia não aceitará concessões territoriais da Ucrânia.

Posição dos EUA

O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que falou por telefone com Lavrov no sábado, também não especificou as questões a serem discutidas em relação ao conflito ucraniano, nem se os EUA considerarão a possibilidade de suspender as sanções impostas à Rússia. No entanto, ele mencionou que o objetivo da reunião é restabelecer a comunicação com Moscou.

Nesse sentido, ele ressaltou que, "se houver uma chance de avançar em direção à paz, precisaremos conversar com os russos", enfatizando que o telefonema entre Trump e Putin, por si só, não pode resolver "uma guerra tão complexa quanto esta".

Após o telefonema com Putin, Trump declarou que não considerava prático ou provável que a Ucrânia se unisse à OTAN e descreveu Kiev como improvável de recuperar territórios perdidos.

Ele também destacou os resultados ruins das pesquisas de Zelensky, cujo mandato expirou em 20 de maio de 2024, e a necessidade de eleições.

Ucrânia e UE à margem das negociações

Vladimir Zelensky confirmou que não foi convidado para as negociações em Riad, embora tenha observado que também fará uma visita ao reino, acrescentando que a viagem "não tem nenhuma relação com as coisas que estão acontecendo na Arábia Saudita no nível dos representantes dos Estados Unidos e da Rússia". Ele também admitiu que Moscou e Washington têm "questões bilaterais" a tratar.

A ausência da União Europeia levantou preocupações de que a posição do bloco sobre a crise ucraniana será ignorada. Em resposta, o presidente francês, Emmanuel Macron, convocou uma cúpula de emergência de líderes em Paris na segunda-feira, com foco na Ucrânia e no "cenário de segurança da Europa".

A reunião deverá contar com a presença dos líderes da Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia, Espanha, Holanda e Dinamarca, bem como de funcionários de alto escalão da UE e do chefe da OTAN, Mark Rutte. Durante a cúpula, serão realizadas consultas sobre ajuda contínua e garantias de segurança para Kiev. Além disso, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, indicou que seu país está preparado para enviar tropas para a Ucrânia "se necessário".

Entretanto, o chefe da diplomacia russa expressou ceticismo quanto à inclusão de países europeus nas conversações entre os EUA e a Rússia para resolver o conflito na Ucrânia. "Não sei qual é o objetivo de tê-los na mesa de negociações", disse. "Se [os europeus] vão tentar obter algumas ideias inteligentes sobre o congelamento do conflito, enquanto eles próprios - por seus costumes, caráter e hábitos - têm em mente a continuação da guerra, então por que convidá-los?", afirmou.