
'Não há mais vitória para Ucrânia': a reação da mídia ocidental sobre conversa entre Putin e Trump

Os presidentes da Rússia e dos EUA, Vladimir Putin e Donald Trump, realizaram uma ligação telefônica na quarta-feira que se tornou o principal tópico da semana, não apenas para vários políticos e líderes mundiais que se manifestaram sobre o assunto, mas também para as manchetes de todo o mundo.
Mudança na retórica e fracasso do Ocidente
Vários meios de comunicação veem a conversa telefônica como um passo significativo nas relações entre as duas nações e na direção de uma solução para o conflito ucraniano.

O jornal New York Times descreveu a ligação como um "colapso dos esforços ocidentais para isolar diplomaticamente" o presidente russo e enfatizou que esse evento deixou claro que encontrar um fim para o conflito com o apoio de Washington é "uma prioridade" para governo norte-americano.
Uma opinião semelhante foi expressa pelo britânico The Times, que descreveu o diálogo russo-americano como "prova de que as tentativas de isolar a Rússia e tornar o líder do Kremlin um pária internacional falharam"
A mídia britânica observou que era possível que essa aproximação entre os líderes de duas grandes potências mundiais "aumente os temores de que Trump planeja deixar a Ucrânia fora das negociações de paz".
O Asia Times acrescenta que, do ponto de vista de Trump, o país euro-asiático não representa realmente um perigo para a Europa, como muitos acreditam, portanto "a segurança europeia é importante, mas não é realmente ameaçada pela Rússia".
"Aliança crescente" entre Washington e Moscou
Enquanto isso, o jornal Washington Post ressalta que Trump, com essa ligação de uma hora e meia, "quebrou um silêncio de anos entre o Salão Oval e o Kremlin", "iniciou um novo capítulo em sua longa história" e ilustrou "a crescente aliança entre Trump e Putin de uma forma que provavelmente irritou" o líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, já que o líder dos EUA se concentrou principalmente nos termos interessam a Rússia.

Deixando para trás três anos de política norte-americana e surpreendendo os aliados europeus, como observa a Bloomberg, Trump enviou "um sinal potencialmente dramático de que Washington e Moscou poderiam chegar a um acordo para acabar com os combates na Ucrânia sem levar em conta o governo do país", acrescenta a Associated Press.
Por sua vez, o Politico considera que a reunião "marcou uma importante mudança na postura dos Estados Unidos em relação à Rússia, esclarecendo o desejo de Trump de normalizar as relações" e "sua disposição de levar a sério o líder russo sobre o desejo compartilhado de acabar" com o conflito.
Da mesma forma, Axios relata que "o telefonema e o possível encontro, juntamente com a troca de prisioneiros anunciada na terça-feira, são sinais de que a relação congelada entre os EUA e a Rússia está se descongelando".
De modo geral, todos esses comentários e afirmações podem ser resumidos em uma publicação do jornal italiano La Repubblica, que observa que "o evento de ontem provavelmente mudará a história, o paradigma do mundo baseado em regras compartilhadas, como o conhecemos desde o fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria".
"Golpe devastador" para a Ucrânia
As intenções de Washington em relação à resolução da crise ucraniana estão sendo reveladas com uma "aceleração espetacular" e, pela primeira vez, o novo governo definiu as linhas vermelhas de seu envolvimento no conflito, afirma Le Figaro francês.
A maioria dos veículos converge na opinião de que a conversa telefônica entre Trump e Putin provocou temores tanto em Kiev quanto em outras capitais europeias, pois coloca em questão o já incerto apoio futuro à Ucrânia.
Após o anúncio do telefonema entre Putin e Trump, a UE e seus estados-membros emitiram uma declaração conjunta, exigindo participação nas negociações sobre o conflito ucraniano e argumentando que a Europa deve desempenhar um papel central nelas.

O Le Parisien e o The Sydney Morning Herald argumentam que as autoridades do regime de Kiev estão sob pressão máxima e que essas mudanças na agenda consolidam uma realidade que Zelensky teria reconhecido há muito tempo: que ele terá que chegar a um acordo.
Diante dessa situação, embora ainda não se saiba como seria um acordo de paz entre Kiev e Moscou, sabe-se que Washington já descartou algumas exigências importantes feitas por Zelensky.
Assim, o próprio Trump declarou na quarta-feira que não considera prático ou possível que a Ucrânia entre para a OTAN e que é improvável que recupere seus territórios perdidos.
Na mesma linha, o novo chefe do Pentágono, Pete Hegseth, declarou que "retornar às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 é um objetivo irrealista" e enfatizou que a adesão do país eslavo à Aliança Atlântica não é um "resultado realista de uma solução negociada" para o conflito.
De acordo com a ABC, isso seria um "golpe devastador" para o regime ucraniano, pois é o que seus funcionários e o líder do regime mais desejavam.
O Frankfurter Allgemeine Zeitung descreve essa nova realidade para Kiev como uma "nova fase de incerteza", que é "uma ruptura de longo alcance com a política anterior do Ocidente em relação à Ucrânia".
Consequentemente, segundo a mídia, nessas circunstâncias, quando muito do que foi dito e feito for deslegitimado, "não haverá mais vitória para a Ucrânia".
- Na quarta-feira, Trump manteve conversas telefônicas com Putin e Zelensky. Entre outras coisas, eles discutiram a resolução do conflito em andamento.
- O presidente dos EUA mencionou então que provavelmente se reunirá com seu colega russo pela primeira vez na Arábia Saudita e que poderia haver outra reunião depois dessa. Ao mesmo tempo, ele observou que não vê ameaça em manter um diálogo direto com a Rússia sem a participação de Zelensky.
- Enquanto isso, o Kremlin confirmou que já começaram os preparativos para formar um grupo de negociadores para resolver o conflito na Ucrânia.