Quem é a 'dama de ferro' que impediu o colapso da economia russa e até fez o PIB crescer?

A mídia ocidental tem elogiado repetidamente a presidente do banco central da Rússia por sua política equilibrada destinada a preservar a economia russa.

Os países ocidentais ficaram surpresos com o crescimento inesperado da economia russa apesar das inúmeras sanções e do congelamento de bens, o que é atribuído em parte às ações da presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, "uma chefe de banco central de classe mundial"comentou na segunda-feira (10 de fevereiro) o colunista da Bloomberg Mark Champion.

Por que economia?

Elvira Nabiullina, que foi comparada à ex-primeira-ministra britânica, a "Dama de Ferro" Margaret Thatcher, nasceu em 29 de outubro de 1963 na cidade de Ufá. Ela se formou em economia pela Universidade Estatal de Moscou Lomonosov em 1986.

"Não posso dizer que me interessava por economia. Eu, na verdade, nem sequer sabia o que era economia. Eu me senti atraída pelo desconhecido", disse Nabiullina em uma entrevista explicando sua escolha de profissão.

"Quando cheguei a Moscou, fui ao escritório de admissões e li a lista de cursos... Eu já tinha ouvido falar de todos eles, mas não de economia... Naquela época não ensinavam estudos sociais na escola como hoje. E, para mim, economia era algo completamente desconhecido", acrescentou.

Caminho rumo ao ministério

Nabiullina iniciou sua carreira na esfera econômica do país no fim da União Soviética em 1991 na então chamada União Científico-Industrial da URSS, que depois passou a ser chamada de União de Industriais e Empreendedores Rússia, onde trabalhou até 1994, quando foi transferida para o Ministério da Economia da Federação Russa. Nos anos seguintes, ela ocupou cargos seniores sob o comando de Yevgeny Yasin, incluindo o de Vice-Ministra da Economia de 1997 a 1998.

Posteriormente, Elvira Nabiullina deixou a agência estatal e trabalhou como vice-presidente do Conselho de Administração da instituição bancária Promtorgbank (1998-1999) e como vice-presidente da Fundação "Centro de Pesquisas Estratégicas" (1999-2000). Durante esse período, a fundação era comandada por German Gref, que foi o primeiro vice-ministro da Propriedade Estatal da Federação Russa e membro da sede eleitoral do então candidato à presidência Vladimir Putin.

Ela participou do desenvolvimento do programa socioeconômico do futuro presidente, bem como no desenvolvimento das principais características da política socioeconômica de longo prazo do estado.

Vladimir Putin ganhou as eleições presidenciais de 2000 e Gref foi nomeado Ministro do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Federação Russa com Nabiullina tornando-se sua primeira vice. Ela ocupou esse cargo até 2003, retornando depois ao Centro de Pesquisas Estratégicas, mas, dessa vez, como presidente. Em 2006, Putin a nomeou chefe do conselho de especialistas do comitê organizador para a preparação da presidência russa do G8 naquele ano.

Principais ações como ministra

Em 24 de setembro de 2007, foi nomeada Ministra do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Federação Russa, sucedendo German Gref. Após a eleição de Dmitry Medvedev em 2008, o ministério passou a ser chamado apenas de Ministério do Desenvolvimento Econômico (as funções de regulamentação do comércio foram atribuídas a um novo órgão, o Ministério da Indústria e Comércio), mas Nabiullina continuou a comandar a instituição até maio de 2012.

Nabiullina foi reconhecida pelas medidas que tomou durante seu mandato como ministra, incluindo a criação de um sistema de planejamento estratégico para o desenvolvimento do país.

Durante a crise econômica de 2008, a Rússia conseguiu contornar esse período de turbulência mundial sem grandes complicações graças à política equilibrada do ministério comandado por Nabiullina, que tomou medidas para dar apoio ao setor de bens e serviços e pequenas empresas, bem como proteger o mercado interno e o setor bancário; tudo isso sem que obrigações sociais deixassem de serem cumpridas.

Em 2021, a Rússia aderiu à Organização Mundial do Comércio após quase 20 anos de negociações, o que se deu graças aos esforços de Nabiullina em remover as barreiras que isolavam a economia russa do resto do mundo.

A "Dama de Ferro" do Banco Central

Em maio de 2012, quando Putin retornou à presidência da Rússia, Nabiullina assumiu a função de auxiliar do presidente para assuntos econômicos. Em 2013, foi nomeada presidente do Banco Central da Federação Russa, cargo que ocupa desde então.

Entre as políticas de destaque da economista está o "expurgo" do sistema bancário do país. Durante os primeiros nove anos de sua administração, mais de 500 bancos perderam suas licenças – medida que visava reduzir o número de instituições financeiras envolvidas em operações duvidosas e também para proteger os investidores dos riscos da alocação de fundos em bancos fracos.

Além disso, em meio ao cenário de enfraquecimento do rublo e da queda acentuada dos preços do petróleo que vieram como resultado das primeiras sanções impostas à Rússia após a anexação da península da Crimeia em 2014, o Banco Central russo decidiu abandonar as restrições cambiais e adotar o sistema de câmbio flutuante.

Também em razão do aumento da inflação que se seguiu à anexação da Crimeia, Nabiullina decidiu aplicar um aumento drástico na taxa de juros (de 10,5 a 17%), o que lhe conferiu a reputação de ser uma pessoa que toma decisões firmes. Isso permitu que a inflação chegasse ao patamar de 4% em 2017, o mais baixo desde o fim da URSS.

Também em resposta ao desligamento dos bancos russos do sistema de transações interbancárias SWIFT e ao bloqueio dos cartões Visa e MasterCard na Rússia, o Banco Central do país criou o Sistema Nacional de Cartões de Pagamento que se tornou a operadora dos cartões Mir, surgidos em 2015 e que agora são usados ​​em vários países, bem como seu próprio sistema de transações financeiras.

Em abril de 2022, ano em que a operação militar especial começou, a economista garantiu que a Rússia tivesse reservas de yuans e de ouro suficientes para amenizar o impacto das sanções ocidentais depois de Washington e seus aliados terem congelado as reservas de dólares e euros do país.

Em junho do mesmo ano, o conselheiro presidencial, Maxim Oreshkin, chegou a dizer que Nabiullina fazia parte da "equipe médica" que trabalhava para salvar a economia do país.

Em janeiro de 2024, a chefe do Banco Central da Rússia afirmou que a participação dos países-membros do BRICS no PIB global ultrapassará a dos países do G7.

Reconhecimento global

Em 2015, a revista Euromoney nomeou Nabiullina como a melhor presidente de banco central do mundo, destacando a "terapia de choque" aplicada pela economista e elogiando seus esforços no combate à "tempestade macroeconômica [...] com medidas políticas sólidas" e na estabilização da moeda.

Entre 2017 e 2021, a presidente do Banco Central russo figurou entre as 100 mulheres mais poderosas do mundo de acordo com a Forbes.

Em 2022, o jornal alemão Die Welt chamou a política de Nabiullina de o exemplo mais eloquente de trabalho eficaz na esfera econômica ao referir-se à sua gestão anticrise. De acordo com o jornal, a presidente do órgão regulador "evitou o colapso do rublo, impediu a fuga de capitais e recebeu elogios de todos os lados".

Em novembro de 2023, a publicação americana Politico a colocou no topo da categoria "disruptores" em sua tradicional lista de 28 pessoas que "moldarão a vida política da Europa" no ano seguinte. Durante sua década à frente do Banco Central da Rússia, a política monetária de Nabiullina salvou o rublo por diversas vezes e conseguiu manter a economia do país à tona.

Enquanto isso, a Austrália e o Canadá impuseram sanções à chefe do órgão regulador russo em abril de 2022 e, alguns meses depois, em setembro, os EUA e o Reino Unido também fizeram o mesmo.

Broches como um símbolo oculto

Elvira Nabiullina tradicionalmente usava broches como símbolos que refletiam a situação econômica em conferências de imprensa após reuniões do banco central em que eram tomadas decisões sobre taxas de juros. Por exemplo, em março de 2020, no contexto da queda do rublo, ela usou um broche na forma de uma boneca russa tradicional, "nevaliashka", simbolizando as medidas de apoio ao setor financeiro durante uma pandemia.

Em entrevista à RTVI, a economista explicou que seus acessórios transmitem a percepção do órgão regulador sobre a situação econômica. Ele disse que sempre pondera sobre o significado de cada broque que usa, mas que todas as vezes o acabam interpretando de maneira mais ampla.

Em fevereiro de 2022, no entanto, a tradição foi quebrada.