Anunciando projetos após projetos, Estados Unidos e China travam uma disputa acirrada pelo domínio da inteligência artificial (IA), na busca por uma tecnologia que se aproxime ou até supere as capacidades humanas.
Quantos projetos existem?
Atualmente, há cerca de 70 mil empresas de inteligência artificial no mundo, segundo dados da empresa de software Ascendix, divulgados em meados de janeiro.
A maioria das startups está nos EUA, com a China em segundo lugar. Um relatório da Universidade de Stanford indica que, entre 2013 e 2023, foram criadas 5.509 empresas de IA nos EUA e 1.446 na China. No entanto, o jornal Global Times estima que atualmente existam mais de 4.500 empresas chinesas no setor.
EUA
Líder mundial em número de empresas de IA, os EUA abrigam gigantes da tecnologia, como OpenAI, Google e Anthropic.
ChatGPT
Lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, o ChatGPT se tornou o chatbot mais popular do mundo.
Em apenas cinco dias, a plataforma alcançou um milhão de usuários. Um ano depois, em 2023, esse número chegou a 100 milhões de usuários semanais, dobrando esse número em agosto de 2024.
O chatbot responde perguntas, explica temas complexos, realiza consultas, gera textos em diversos estilos, auxilia no aprendizado de idiomas, escreve códigos, traduz e resolve problemas matemáticos, entre outras funções.
O custo da ferramenta varia entre US$ 20 e US$ 200 por mês, dependendo das funcionalidades disponíveis. Há também uma versão gratuita, mais básica e limitada.
Concorrência no setor
Obviamente, o ChatGPT não é o único chatbot desenvolvido nos EUA. Entre os mais populares estão o Gemini, desenvolvido pelo Google; o Claude, da Anthropic; e o Grok, da startup xAI, de Musk.
As empresas que desenvolvem essas tecnologias tentam integrá-las a seus projetos existentes. Dessa forma, o Grok pode explicar uma publicação em X, enquanto o Google, usando o Gemini, tenta modificar seu mecanismo de busca para que ele não forneça os sites onde a informação foi encontrada, mas sim respostas diretas às perguntas dos usuários.
Stargate
Nenhum dos projetos alcançou a chamada inteligência artificial geral (AGI), um modelo mais avançado de IA. No entanto, um dos envolvidos no novo e ambicioso projeto do presidente Donald Trump acredita que isso está prestes a mudar.
Enquanto a IA atual trabalha com algoritmos específicos para resolver determinadas tarefas, a AGI promete se aproximar ou até superar as capacidades humanas, sendo capaz de aprender de forma autônoma.
Como uma de suas primeiras medidas em seu segundo mandato, Trump anunciou a criação da empresa de tecnologia Stargate, que deverá receber até US$ 500 bilhões em investimentos privados. Entre os financiadores estão o conglomerado japonês SoftBank, a OpenAI, a desenvolvedora de soluções em nuvem Oracle e a MGX, empresa sediada nos Emirados Árabes Unidos e voltada para IA e tecnologia avançada.
Segundo Trump, a Stargate construirá "a infraestrutura física e virtual para impulsionar a próxima geração de IA", incluindo centros de dados "colossais" espalhados pelo país. A iniciativa deve gerar "mais de 100 mil empregos para os americanos quase que imediatamente", declarou.
DeepSeek
O surgimento no mercado da startup chinesa DeepSeek, rival direta do ChatGPT, elevou a competição entre os dois países a um novo patamar e reforçou a determinação de Pequim em liderar o setor de IA.
Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, chefe do fundo de hedge High-Flyer, a DeepSeek superou o ChatGPT e se tornou o aplicativo gratuito mais bem avaliado na App Store dos EUA no final de janeiro. O acesso ao chatbot é gratuito.
Os desenvolvedores afirmam que a plataforma possui habilidades avançadas de "raciocínio" e pode reavaliar suas próprias abordagens.
Outras apostas da China
Assim como os EUA, a China investe bilhões de dólares no desenvolvimento da IA. O DeepSeek é apenas uma das apostas do gigante asiático para vencer essa corrida.
Entre os principais exemplos estão o Ernie Bot 4.0, criado pela Baidu em 2023 e o primeiro chatbot de IA chinês disponível ao público, e o modelo Doubao 1.5 Pro, da ByteDance, controladora do TikTok, que tem 60 milhões de usuários ativos mensais.
Restrições para (tentar) conter a concorrência
Para conter o avanço chinês, os EUA impuseram restrições à exportação de componentes e tecnologias essenciais para a IA e a fabricação de chips. No fim de seu mandato, o governo de Joe Biden ampliou essas restrições.
A medida busca evitar que chips sejam usados no treinamento de modelos de IA chineses. No entanto, diante do sucesso do DeepSeek, surgiram suspeitas de que a startup teria adquirido semicondutores avançados da Nvidia por meio de intermediários em Cingapura, driblando as sanções de Washington. O governo dos EUA já iniciou uma investigação sobre o caso.
O que esperar?
O ex-CEO do Google, Eric Schmidt, disse que os avanços da DeepSeek "mostram que China e EUA estão em pé de igualdade e que a vantagem tecnológica americana não é garantida". Ele destaca que, para manter a liderança, os EUA precisam continuar investindo em talentos, em ecossistema de código aberto e em inovação.
Para alguns especialistas, o sucesso da DeepSeek não altera o equilíbrio de poder. Helen Toner, analista de IA do Centro de Segurança e Tecnologias Emergentes de Georgetown e ex-membro da diretoria da OpenAI, argumenta que "a competição só mudará se a China desenvolver algo que realmente ultrapasse a fronteira".
Outros, porém, acreditam que o surgimento do chatbot chinês pode redefinir a dinâmica do setor. "Os modelos mais recentes da DeepSeek não significam que a China ultrapassou os EUA, mas mostram avanços notáveis que mitigam as restrições impostas pelos controles de exportação", avaliou a analista Tilly Zhang, da Gavekal Dragonomics.
Já Lian Jye, analista-chefe da consultoria Omdia, afirmou que "a China obteve avanços impressionantes na construção de centros de computação inteligente". Ele ressaltou que, "se os chineses mantiverem esse ritmo, a diferença entre os países diminuirá ainda mais, apesar do Stargate [dos EUA]".