
Entenda o programa nuclear do Irã

Em 1957, o mandatário iraniano da época, o xá Mohamed Reza Pahlavi, firmou com os EUA um acordo de cooperação para o desenvolvimento de pesquisas no campo da energia atômica para fins pacíficos no âmbito do programa "Átomos pela Paz" (do inglês Atoms for Peace) do presidente Dwight Eisenhower. No ano seguinte, o país persa se tornou membro da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA).
Em 1968, o Irã torna-se signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), ratificando o documento em 1970.
Em 1974 é fundada a Organização de Energia Atômica do Irã. No mesmo ano, com ajuda dos EUA, o xá aprovou a construção de 23 usinas nucleares até o ano 2000. Também em cooperação com a França, foi construído um centro de pesquisas atômicas na cidade de Isfahan.

O governo de Teerã assinou em 1975 um acordo com o consórcio alemão Kraftwerk Union AG para a construção do reator da primeira usina nuclear do país na cidade de Bushehr.
No ano seguinte, com o objetivo de proporcionar lucros milionários a empresas norte-americanas, o presidente dos EUA, Gerald Ford, assinou uma diretiva de cooperação com o país persa. De acordo com o documento, o Irã deveria utilizar plutônio enriquecido produzido nos EUA como combustível para suas centrais nucleares. O plano de Ford visava suprir as necessidades energéticas do país persa com energia nuclear enquanto que o petróleo seria reservado para exportação e uso na indústria petroquímica.
A pesquisa atômica, contudo, foi interrompida pela Revolução Islâmica de 1979. A nova administração suspendeu os projetos das usinas nucleares e expulsaram as empresas estrangeiras e seus especialistas do país.
Teerã retomaria seu programa atômico somente em 1981. Já em 1984 foram emitidos os primeiros relatórios reportando sobre a futura capacidade de produção de armas nucleares do Irã.
Os reatores da usina de Bushehr foram constantemente bombardeados entre 1984 e 1988 durante a Guerra Irã-Iraque, período em que o programa nuclear da República Islâmica foi novamente suspenso.
Em 1992, o Irã firmou um acordo de cooperação com a Rússia no campo da energia nuclear. Ainda no mesmo ano, inspetores da AIEA visitaram as instalações do país, atestando o caráter pacífico do programa nuclear persa.
Os EUA decidem impor unilateralmente sanções econômicas à Teerã em 1995, no mesmo ano em que a República Islâmica e a Rússia firmaram um acordo para retomar a construção da usina nuclear de Bushehr.
Crise diplomática
Em 2002, o presidente dos EUA na época, George W. Bush, inclui o país persa no chamado "Eixo do Mal", grupo de nações que Washington alega serem apoiadoras do terrorismo.
No ano seguinte, os EUA acusam Teerã de terem planos visando o desenvolvimento de armas nucleares. Contudo, no final daquele ano, com a mediação da França, Alemanha, Rússia e Reino Unido, o Irã tornou-se signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e, após inspeção da AIEA, concluiu-se que as instalações nucleares iranianas não estavam sendo utilizadas para fins bélicos.
Em 2004, Hassan Rohani, que na época era o responsável pelas negociações com a AIEA, anunciou que o Irã iria voluntariamente suspender seu programa de enriquecimento de urânio como gesto de boa vontade ao Ocidente, mas o programa foi posteriormente retomado em 2006 pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A fim de conter o suposto desenvolvimento de armas nucleares da República Islâmica, Washington voltou novamente a impor sanções econômicas ao Irã apesar de um relatório da CIA ter descartado a possibilidade de o país persa ser capaz de produzir armas nucleares a médio prazo.
Delete
Em 2011, a AIEA publicou um relatório alegando que o Irã já possuía a tecnologia necessária para a construção de uma bomba nuclear, o que fora confirmado por Washington. Em resposta à possível ameaça iraniana, um novo pacote de sanções foi elaborado pelo Conselho de Segurança da ONU, tendo como alvo entidades financeiras iranianas tais como o banco central do país, bem como a imposição de um embargo dos EUA e da UE ao petróleo oriundo da nação persa.
Em 2012, a AIEA anunciou ter avançado na resolução da questão nuclear iraniana, em que, à princípio, seria acordada uma inspeção ao complexo de Parchin, onde supostamente estariam sendo realizados experimentos nucleares.
Em 2013, o chamado Grupo 5+1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos) mais a Alemanha, conseguiu assinar um acordo provisório com o Irã em Genebra, na Suíça. O documento estipulava o congelamento das atividades científicas iranianas que mais causavam apreensão à comunidade internacional (sobretudo o enriquecimento de urânio a 20%) em troca de uma suspensão parcial das sanções.
Em 2015 fora firmado entre o Irã e os membros do Grupo 5+1 junto com a União Europeia o chamado Plano de Ação Conjunto Abrangente (Joint Comprehensive Plan of Action - JCPoA), também conhecido como "acordo nuclear do Irã", que limitava o programa nuclear iraniano em troca de um alívio das sanções contra a nação persa.
Em 2018, a administração do governo Trump anunciou a retirada dos EUA do Plano de Ação Conjunto Abrangente e restaurou as sanções econômicas, acusando o Irã de violar os termos do acordo ao desenvolver um programa de mísseis balísticos e apoiar grupos considerados terroristas pelo ocidente.
Em 2020, o parlamento iraniano aprovou a lei de "Ações estratégicas para suspender as sanções e proteger os direitos da nação", proibindo inspetores da ONU de entrarem nas instalações nucleares do país e ordenando a retomada do programa de enriquecimento de urânio a 20% caso as sanções contra Teerã não fossem aliviadas dentro de um período de dois meses. A lei foi aprovada em resposta ao assassinato do físico nuclear Mohsen Fakhrizadeh em 27 de novembro de 2020, que o Irã atribui ao serviço de inteligência de Israel.
Situação atual
O Irã tem mantido conversações com os outros países-membros do Grupo 5+1 e com a IAEA desde abril de 2021 a fim de restaurar o acordo nuclear em seu formato original.
Representantes dos países signatários do JCPoA também realizam reuniões à parte com a delegação dos EUA sem a participação do Irã.
Em 20 de dezembro de 2022, a Casa Branca anunciou que retiraria o restabelecimento do acordo nuclear iraniano de sua agenda sem qualquer previsão de retomá-lo no futuro próximo.
Em outubro de 2024, no âmbito da cúpula dos BRICS realizada em Kazan, na Rússia, a declaração final dos países-membros reiterou que o acordo nuclear iraniano deveria ser retomado por todas as partes.