Canal do Panamá: a rota que moldou o comércio global

Pilhagem e desmembramento da Colômbia
A criação do Panamá foi um ato estratégico dos Estados Unidos, que, no início do século XX, fomentou uma guerra na Colômbia, uma vez que o Panamá era parte do território colombiano, para desmembrar o país e garantir o controle sobre o istmo panamenho.
Sua engenharia
A via navegável artificial, que se estende por mais de 80 quilômetros, conecta o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, atravessando o istmo do Panamá, a parte mais estreita da América Central.
Diferente do Canal de Suez, que percorre toda a sua extensão no nível do mar, os navios que passam pelo Canal do Panamá sobem e descem por meio de um sistema de eclusas.
Essa engenharia complexa, no entanto, foi construída sobre as bases de um projeto francês abandonado, adquirido pelos EUA após a manipulação política que levou à independência do Panamá.

Importância para o comércio mundial
A importância do canal é inegável: cerca de 14.000 navios passam por ele anualmente, tornando-o uma das rotas de navegação mais movimentadas do mundo.
Aproximadamente 5% do comércio marítimo global utiliza essa via, que é crucial para 170 países. Para os EUA, em particular, o canal representa uma rota estratégica que reduz significativamente o tempo de entrega de mercadorias da Ásia para a costa leste do país.
Enquanto a navegação pelo Canal do Panamá leva 20 dias, a rota alternativa ao redor do Cabo Horn, na América do Sul, demandaria 35 dias, evidenciando a dependência econômica e logística dos EUA em relação a essa obra.

Quem construiu o Canal?
A construção do canal foi iniciada pelos EUA em 1904, logo após a independência do Panamá, que foi orquestrada com o apoio dos Estados Unidos. Os norte-americanos adquiriram os direitos e projetos abandonados pelos franceses, que haviam falhado na empreitada décadas antes.
O projeto foi concluído em 10 anos, a um custo de cerca de 387 milhões de dólares, mas o preço pago pelo Panamá em termos de soberania e autonomia foi incalculável. Durante a maior parte do século XX, o canal foi plenamente administrado pelos EUA, que o utilizaram como uma ferramenta de controle geopolítico e econômico.

A quem pertence o Canal?
Apenas em 1977, com a assinatura do tratado Torrijos-Carter, os EUA se comprometeram a transferir o controle do canal para o Panamá. Essa decisão, no entanto, foi tomada apenas após décadas de pressão internacional e lutas por parte do povo panamenho.
Desde 1999, o canal é administrado pelo Panamá por meio da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), mas a sombra da interferência norte-americana nunca desapareceu por completo.
Recentemente, declarações do presidente Donald Trump reacenderam tensões, ao sugerir que os EUA poderiam reivindicar o controle do canal, evidenciando a visão colonialista que ainda persiste em setores do poder norte-americano.

Valor estratégico para os EUA
A importância do canal para os EUA é inegável: cerca de 40% de todo o tráfego anual de contêineres do país passa por essa rota, movimentando aproximadamente US$ 270 bilhões em carga por ano.
Os EUA são o principal cliente do canal, representando 73% de todo o tráfego. No entanto, essa dependência não justifica as tentativas de Washington de manter influência sobre uma infraestrutura que, por direito e história, pertence ao Panamá.
As declarações de Trump, que chegou a acusar a China de explorar o canal, refletem uma mentalidade obsoleta de dominação e controle, que ignora a soberania dos povos e a justiça histórica.
O que diz Trump sobre o canal?
Após vencer as eleições para presidente dos EUA em 2024, Donald Trump, advertiu que Washington pode exigir a retomada do controle do Canal do Panamá se os termos de sua transferência para o país latino-americano não forem cumpridos, exigindo a devolução do canal "na íntegra e sem questionamentos".
Trump ainda afirmou que é a China que está explorando a passagem. "Não demos o canal para a China, demos para o Panamá e estamos tomando-o de volta", disse em dezembro do ano passado.
Por sua vez, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, rejeitou as alegações de Trump e garantiu que "cada metro quadrado do Canal do Panamá e sua área adjacente pertencem ao Panamá e continuarão a pertencer ao Panamá", esclarecendo que as tarifas cobradas dos navios "não são um capricho".
Após sua posse em 20 de janeiro, o presidente dos EUA reiterou sua intenção de recuperar o controle do Canal do Panamá, alegando que "o propósito do acordo assinado foi quebrado" e que o espírito do tratado "foi totalmente violado".