O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, comparou o lema "América em primeiro lugar", adotado pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, ao slogan "Alemanha acima de tudo"[Deutschland über alles, em alemão], que ganhou popularidade no regime nazista de Adolf Hitler. A declaração foi feita em um artigo publicado na revista Russia in Global Politics.
Crítica à política externa dos EUA
Lavrov alertou que a política de Washington, baseada em uma "paz por meio da força", representa uma ameaça à diplomacia global e mina o sistema de direito internacional.
"O conceito 'América em primeiro lugar' tem uma semelhança preocupante com o slogan da era Hitler 'Alemanha acima de tudo' [...] Sem mencionar que tais declarações e construções ideológicas não demonstram qualquer respeito pelas obrigações legais internacionais de Washington sob a Carta da ONU", escreveu.
O chanceler russo citou declarações do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, feitas em janeiro de 2023, para sustentar sua crítica. Segundo Lavrov, Rubio sugeriu que a ordem mundial pós-guerra estava obsoleta e se tornara uma arma contra os interesses norte-americanos.
"Ou seja, não apenas o mundo de Yalta-Potsdam com o papel central da ONU, mas até mesmo a 'ordem baseada em regras', que parecia incorporar o egoísmo e a arrogância do Ocidente liderado por Washington na era pós-Guerra Fria, agora é indesejável", argumentou.
Nova ordem multipolar
Lavrov afirmou que os Estados Unidos ainda não aceitaram a impossibilidade de restaurar sua hegemonia global, pois o mundo mudou.
Ele concordou com analistas russos que acreditam que Washington acabará por compreender a necessidade de reduzir sua interferência em assuntos internacionais e assumir o papel de uma das potências de um mundo multipolar.
"A multipolaridade está se fortalecendo e, em vez de resistir a esse processo inevitável, os EUA poderiam se tornar, em uma perspectiva histórica previsível, um dos centros de poder responsáveis, juntamente com a Rússia, a China e outras nações do Sul Global, do Leste, do Norte e do Oeste", declarou.
Até que o novo governo norte-americano reconheça essa realidade, acrescentou, continuará a "testar os limites da flexibilidade do atual sistema centrado na ONU e sua resistência aos interesses dos EUA".