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'Alemanha primeiro': o que defende o AfD, partido oposicionista que pode ser banido?

Desde março de 2022, a legenda é suspeita de extremismo e já houve duas tentativas de bani-lo oficialmente.
'Alemanha primeiro': o que defende o AfD, partido oposicionista que pode ser banido?Gettyimages.ru / Ying Tang/NurPhoto

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), um dos mais novos representados no Bundestag (parlamento alemão), está no centro das atenções, ampliando sua influência política e se tornando capaz de alterar o equilíbrio de poder no país.

Fundado em 2013, o partido fracassou em sua primeira tentativa de entrar no Bundestag, obtendo apenas 4,7% dos votos. No entanto, em 2017, conseguiu não apenas ingressar no parlamento alemão, mas também no Parlamento Europeu. Em setembro do ano passado, venceu as eleições parlamentares na Turíngia, alcançando sua primeira vitória em uma disputa regional.

Em dezembro de 2024, o partido nomeou oficialmente, pela primeira vez, sua copresidente Alice Weidel como candidata a chanceler para as eleições antecipadas de fevereiro.

Atualmente, o AfD é o principal grupo de oposição à aliança formada pela União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU) e Partido Social Democrata (SPD).

'Saída para o palco': crise migratória

Nesta semana, o Bundestag aprovou um plano apresentado pela CDU para endurecer a política migratória do país. As medidas incluem controles permanentes de fronteira, rejeição de todas as tentativas de entrada ilegal e regras mais rígidas para deportação de criminosos e indivíduos considerados perigosos. Foi a primeira vez que uma moção no parlamento alemão obteve maioria com apoio do AfD.

A aliança gerou polêmica e protestos na Alemanha contra o líder da CDU, Friedrich Merz, acusado de trair a democracia ao aceitar votos dos "fascistas", acusação que o partido rejeita.

Até mesmo a ex-chanceler alemã Angela Merkel, que tem evitado fazer declarações políticas desde que deixou o cargo, se manifestou, afirmando que as maiorias devem ser construídas apenas com partidos centristas.

"No entanto, acho que é um erro não se sentir vinculado a essa proposta e, assim, permitir conscientemente uma maioria com votos do AfD em uma votação no Bundestag alemão em 29 de janeiro de 2025 pela primeira vez", declarou Merkel.

No dia seguinte, após meses de debates sobre uma possível proibição do AfD, duas moções pedindo que o Tribunal Constitucional Federal declarasse o partido inconstitucional foram votadas no parlamento.

A iniciativa foi rejeitada, e o próprio AfD acusou os peticionários de tentarem excluir "12 milhões de eleitores" com base em "evidências anedóticas" contra seu programa, que classifica como "impecável".

Uma pesquisa da ZDF-Politbarometer revelou que 71% dos entrevistados consideram o AfD uma ameaça à democracia, mas apenas 41% apoiam sua proibição, a maioria entre eleitores dos Verdes, da Esquerda e do SPD.

Desde março de 2022, o partido está sob vigilância do Escritório Federal para a Proteção da Constituição por suspeita de extremismo.

Ideologia

O AfD se apresenta como um partido "antissistema" e defensor da "verdadeira vontade do povo".

Entre suas principais bandeiras estão as políticas de anti-imigração, o fortalecimento das fronteiras e a ideia de que a Alemanha deve estar em primeiro lugar.

O partido defende a abolição da dupla cidadania e a deportação de pessoas que adquirirem nacionalidade estrangeira. "Não há direito humano de migrar para o país de sua escolha", argumentam seus membros.

Outro conceito central da ideologia do partido é o termo "Volkisch" (derivado da palavra alemã "volk", que significa "povo"), que remete a uma visão tradicionalista da sociedade.

O AfD defende um modelo familiar conservador, com mulheres em papéis secundários, oposição ao aborto e políticas natalistas para preservar a identidade nacional.

Em 2023, Alice Weidel afirmou que o Reino Unido estava "absolutamente certo" ao deixar a União Europeia e sugeriu que a Alemanha realizasse um referendo similar, apelidado de "Dexit". Para o AfD, caso a UE não passe por uma reforma estrutural, Berlim deveria abandonar o bloco.

O partido também defende o reforço das fronteiras da Alemanha com países da União Europeia. Em entrevista ao empresário Elon Musk, Weidel criticou os últimos 25 anos de gestão alemã, com ênfase nas políticas energéticas de Angela Merkel, que incentivaram fontes renováveis como solar e eólica.

O AfD se posiciona contra medidas ambientais e defende o uso do carvão como fonte central da matriz energética alemã. A legenda rejeita as políticas ambientais promovidas por partidos de esquerda e pelos Verdes.

O partido também tem apelado à chamada "cultura da memória" ("Erinnerungskultur", em alemão) para defender uma Alemanha "forte e grande" como no passado.

Na mesma conversa com Musk, Weidel mencionou a liberdade de expressão para rebater comparações entre as posições do AfD e as do regime nazista de Hilter. Ela descreveu o partido como um movimento "libertário conservador".

  • A ascensão do AfD pode ser explicada por uma combinação de fatores econômicos, políticos e sociais. Nos últimos anos, a economia alemã tem enfrentado uma crise em seus principais setores, como a produção de máquinas e a indústria automobilística.
  • As condições de crescente insegurança no país estão aumentando a popularidade de partidos como o AfD, que promete um futuro melhor com a ideia de "Alemanha em primeiro lugar".
  • De acordo com uma pesquisa do Forschungsgruppe Wahlen, realizada nos primeiros dez dias de janeiro, o CDU ficou em primeiro com 29%; o AfD em segundo com 21%; seguida do SPD com 15% e os Verdes com 14%.