Trump volta a ameaçar países do BRICS que se afastarem do dólar com tarifas de 100%

Apesar das ameaças, analistas estimam que as tarifas não teriam grande impacto diante das medidas estruturais que já estão sendo tomadas.

Através de uma publicação realizada nesta quinta-feira (30) em sua rede social, a Truth Social, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a ameaçar os países do BRICS com retaliações caso avancem em seus planos de desdolarização.

"A ideia de que países do BRICS estão tentando se distanciar do dólar, enquanto assistimos parados, ACABOU. Vamos exigir um compromisso desses países hostis de que eles não criarão uma nova moeda, e nem apoiar outra moeda para substituir o dólar norte-americano", escreveu o presidente.

Caso contrário, tais países estarão sujeitos a uma tarifa de 100%, e "deverão dar adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA", acrescentou. "Podem procurar outra nação de otários".

Tendência inevitável

Apesar das ameaças, analistas estimam que as tarifas não teriam grande impacto diante de medidas estruturais que já estão sendo tomadas. "Não é uma tendência que será determinada pelo que acontece nos próximos quatro anos", explicou Zhu Feng, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Nanjing.

Economistas citados pelo SCMP apontam, por exemplo, que medidas importantes têm sido tomadas para acelerar a ascensão internacional do yuan e de outras moedas emergentes. Dentre elas, o anúncio, por parte do governo chinês, da criação de 40 linhas bilaterais de swap com outras nações, permitindo que elas troquem suas moedas locais pelo yuan.

Além disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (o Banco do BRICS) se comprometeu a aumentar em 30% a quantidade de empréstimos feitos em moedas locais até 2026.

Conforme explicado por Paulo Nogueira Batista Jr, ex-diretor-executivo do FMI e ex-vice presidente do Banco do BRICS, em uma entrevista à RT em outubro, muitos países também buscarão se distanciar do dólar simplesmente porque a moeda está se tornando cada vez mais perigosa, sob um ponto de vista financeiro:

"Se você olhar para a situação financeira dos EUA, ela não é brilhante. Várias dívidas, e nenhuma tendência de diminuir essas dívidas, que só crescem em proporção ao PIB dos EUA. (...) Então até em termos financeiros, a confiança no dólar está diminuindo", apontou à época. 

"Mas a principal razão é que estão transformando o dólar em uma arma quase militar para minar países vistos como hostis pelo Ocidente", acrescentou, observando que as sanções impostas contra a Rússia criam incerteza e motivam países como a China, detentora de trilhões de dólares em reservas nos EUA e na Europa, a buscar por alternativas.