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Salve-se quem puder: como Trump está acertando as contas com 'inimigos internos'?

O presidente dos EUA demitiu funcionários do Departamento de Justiça e outras agências, aprofundando a retaliação contra aqueles envolvidos em investigações relacionadas a ele.
Salve-se quem puder: como Trump está acertando as contas com 'inimigos internos'?AP / The Washington Post

Assumindo o cargo de 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump logo iniciou um processo de vingança contra aqueles que considera inimigos, parte do chamado "estado profundo", apesar de ter afirmado em dezembro passado que não tinha planos de "voltar ao passado".

A nova administração já demitiu funcionários envolvidos com diversidade, equidade e inclusão (DEI), e, na segunda-feira, foi a vez do Departamento de Justiça (DOJ), que anunciou a demissão de mais de uma dúzia de funcionários que trabalharam em investigações criminais contra Trump. Essas investigações foram conduzidas pelo procurador-geral interino, James McHenry.

Segundo o Washington Post, que conversou com mais de duas dúzias de pessoas com conhecimento do assunto, os ex-funcionários envolvidos nas investigações estão se preparando para possíveis consequências, como investigações criminais, auditorias fiscais, escrutínio legislativo e até prisões. Mais da metade deles admitiu estar procurando um advogado, e alguns já preparam malas caso precisem deixar o país rapidamente.

Os funcionários demitidos receberam uma carta mencionando especificamente seu papel na acusação de Trump: "Vocês desempenharam um papel importante na acusação do Presidente Trump", diz o documento, apurado pela NBC News.

"O bom funcionamento do governo depende criticamente da confiança que os altos funcionários depositam em seus subordinados. Dado seu papel significativo na acusação do presidente, não acredito que a liderança do departamento possa confiar em você para ajudar a implementar fielmente a agenda do presidente", afirmou McHenry na carta.

Instrumentalização do governo federal

As demissões ocorreram após Trump assinar a ordem "Ending the weaponization of the Federal Government" (Acabando com o armamento do Governo Federal), que acusa a administração do ex-presidente Joe Biden de usar o judiciário de maneira "instrumentalizada" para prejudicar o processo democrático.

A ordem faz referência aos processos do governo anterior contra indivíduos ligados à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e instrui o procurador-geral e o diretor de inteligência nacional a corrigir a "má conduta do passado". No caso do DOJ, Trump mira a equipe jurídica liderada pelo promotor especial Jack Smith, que conduziu processos federais contra Trump por interferência nas eleições e manejo indevido de documentos confidenciais.

Como Trump não poderia ser julgado após sua posse em 20 de janeiro, Smith arquivou os dois casos esperando que, quando o republicano estivesse fora do cargo, eles fossem retomados. No entanto, o promotor pediu demissão em 12 de janeiro.

Durante sua campanha eleitoral, Trump acusou todas as investigações contra ele de serem uma "caça às bruxas" motivada por razões políticas, com o objetivo de prejudicar sua candidatura à reeleição. Especialistas jurídicos, no entanto, alertam que o presidente não deveria retaliar os funcionários, já que eles estavam apenas cumprindo suas funções, e, em alguns casos, foram designados para as investigações.

Mais demissões e uma "limpeza noturna"

No mesmo dia das demissões no DOJ, três democratas foram dispensados do Conselho de Supervisão da Privacidade e das Liberdades Civis, o que pode causar um período de inatividade no órgão de vigilância independente, informou a Bloomberg. Anteriormente, Trump havia prometido demitir os democratas do conselho caso não renunciassem até 24 de janeiro.

Além disso, foi revogada a proteção governamental para o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton e o enviado especial para o Irã, Brian Hook.

Trump também decidiu encerrar vários privilégios de segurança, inclusive para 51 ex-funcionários de inteligência.

Na última sexta-feira, o republicano  fez uma "limpeza noturna", demitindo ao menos 15 inspetores-gerais de diversos órgãos federais. Trump justificou a decisão, alegando não conhecer os funcionários, embora muitos tenham sido nomeados por ele no primeiro mandato.