Rússia defende na ONU legado do Exército Vermelho na libertação de Auschwitz

Vassily Nebenzia, representante permanente do país das Nações Unidas, defendeu a contribuição decisiva das forças soviéticas na derrota do nazismo e criticou a distorção dos fatos históricos.

Os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz "jamais poderiam imaginar que o nazismo e o neonazismo voltariam a ganhar força em diversas partes do mundo", afirmou o representante permanente da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, durante discurso na Assembleia Geral da ONU nesta segunda-feira, por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Nebenzia ressaltou o papel fundamental do Exército Vermelho na derrota da Alemanha nazista, lembrando que foram os soldados soviéticos que libertaram o campo de Auschwitz em 27 de janeiro de 1945, onde pelo menos um milhão de pessoas foram exterminadas. Ele mencionou relatos de testemunhas que descreveram os prisioneiros abraçando e chorando de emoção ao receber doces das mãos dos soldados soviéticos.

O diplomata criticou a reinterpretação histórica do papel do Exército Vermelho, denunciando que "algumas décadas depois, o papel decisivo do Exército soviético na destruição do nazismo e no fim do Holocausto começou a ser questionado".

Ele também lamentou que "o país em cujo território Auschwitz estava localizado está destruindo monumentos dedicados aos soldados soviéticos" e que a Rússia foi excluída de eventos memoriais no antigo campo de concentração.

Para Nebenzia, a memória das vítimas do nazismo é "sagrada" para a Rússia. Ele sublinhou que, sem a vitória soviética de 1945, não haveria Nações Unidas nem o mundo como o conhecemos. 

O diplomata também recordou os sacrifícios soviéticos, mencionando os 231 soldados que perderam suas vidas para libertar Auschwitz e os horrores enfrentados pelos prisioneiros, incluindo bebês assassinados nas câmaras de gás do campo.

Rússia não foi convidada para o aniversário do fim de Auschwitz

Na segunda-feira (27), a Polônia celebrou os 80 anos da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas, com a presença de representantes da Alemanha, Áustria e Itália, países diretamente responsáveis pelo Holocausto.

No entanto, a Rússia, que participava do evento até 2022, não foi convidada. Entre os participantes, estava o líder do regime da Ucrânia, Vladimir Zelensky.

Em resposta, Moscou enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, com uma lista de episódios que, segundo a Rússia, evidenciam a glorificação de nazistas nos últimos anos.

Piotr Cywiński, diretor do memorial de Auschwitz, afirmou que seria "cínico" convidar a Rússia, argumentando que "um país que não entende o valor da liberdade não tem lugar em uma cerimônia dedicada à libertação".