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Colonização francesa nunca trouxe nada de bom à África, diz ex-presidente sul-africano

Em entrevista à RT, Jacob Zuma declarou que, desde o início da colonização, a única coisa que Paris fez foi se apropriar dos recursos e da riqueza de suas possessões coloniais africanas.
Colonização francesa nunca trouxe nada de bom à África, diz ex-presidente sul-africanoGettyimages.ru / Anders Pettersson

Jacob Zuma, presidente da África do Sul de 2009 a 2018, declarou em entrevista à RT que "desde que a França colonizou a África, nunca fez nada de bom pelo continente". O ex-presidente ainda enfatizou que, durante o processo de descolonização, a França deixou suas tropas estacionadas nas ex-colônias a fim de reprimi-las e garantir que seus recursos e finanças sejam administrados por Paris e não por africanos livres.

Zuma questionou qual seria o tipo de "gratidão" por parte dos africanos esperada pela França, já que a "metrópole europeia se apropriou dos recursos e da riqueza de suas colônias na África e ainda por cima deixou suas tropas estacionadas no continente". O político também acrescentou que são exatamente por esses motivos que golpes de Estado aconteceram em vários países africanos.

Zuma expressou seu apoio à decisão do Senegal e da Costa do Marfim de expulsar as tropas francesas, observando que tal medida deveria ter sido tomada antes pois a presença dos militares europeus "é um insulto". O ex-presidente também descreveu a atitude de Paris em relação às ex-colônias como "paternalismo francês", concluindo ser este o momento oportuno para expulsá-los e que "não podemos esperar mais".

Política colonial francesa na África

As possessões coloniais francesas na África somavam mais de 9 milhões de quilômetros quadrados de área; contudo, eram inferiores às colônias britânicas em termos populacionais, com estimados 25–34 milhões de habitantes. Isto se explica pelo fato de que grande parte dos territórios ocupados pelos franceses se estenderem pelas zonas desérticas do Saara. Suas colônias eram Costa do Marfim. Gabão, Guiné Francesa, Daomé (atual Benin), República do Congo, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Burkina Faso, Chade, Somália Francesa, Madagascar, Maurício, Marrocos, Argélia, Tunísia, Togo, Camarões, Comores e Djibuti.

Os regimes coloniais restringiram praticamente qualquer desenvolvimento local. Os principais setores, tal como mineração, bancos, comércio atacadista, transporte e agricultura eram controlados por empresas estrangeiras.

O sistema franco-africano, criado em Paris na década de 1960, tornou as ex-colônias dependentes da França nos âmbitos econômico, político e militar. O mecanismo de dominação francesa baseava-se no suborno de líderes locais, na presença de militares e mercenários, e na educação das elites pós-coloniais em universidades francesas.

O sistema "francófono" encontra-se atualmente em crise já que cada vez mais os países africanos de língua francesa buscam diversificar seus parceiros na área da segurança, afastando-se da tradicional assistência militar francesa.