Saiba por que o BRICS é motivo de preocupação para Trump
Desde a campanha eleitoral de 2024 nos EUA, os países do BRICS têm sido alvo de ameaças por parte do presidente norte-americano Donald Trump, prometendo introduzir tarifas de 100% contra as economias do grupo.
Mesmo que o BRICS não esteja dirigido contra ninguém e não tenha objetivo declarado de combater potência alguma, Trump não deixa de manifestar preocupação com as atividades do conjunto dos países emergentes que ocupam um lugar cada vez mais importante nas questões internacionais.
Ameaça de desdolarização
Uma das razões principais que vem gerando inquietação no 47º presidente norte-americano é o avanço do BRICS na cooperação financeira.
O BRICS atualmente está trabalhando para criar uma própria ferramenta de pagamentos entre países membros, incluindo um circuito independente de pagamento e liquidação para atender a todo o comércio exterior.
Na cooperação entre si, os membros do BRICS usam cada vez mais moedas próprias, com Rússia e Irã sendo os países do grupo que já abandonaram dólar por completo no comércio bilateral.
Dados de setembro indicam que Moscou e seus parceiros de BRICS utilizam moedas nacionais em 65% dos acordos comerciais mútuos.
Diante desse cenário, em suas ameaças o republicano traça ligação estreita entre o "afastamento do dólar" e possíveis contramedidas econômicas, admitindo que perder domínio de dólar será como "perder uma guerra".
Influência crescente da China
Ainda em seu primeiro mandato, Trump tentou diminuir a influência da China no comércio internacional e dentro dos EUA, travando a chamada "guerra comercial", introduzindo sanções à exportação de chips para o país asiático e lançando obstáculos para produtores chineses.
Contudo, sendo o país do BRICS, o gigante asiático tem uma ferramenta de manter, ou até mesmo aumentar, participação na cooperação internacional, bem como promover iniciativa do "Cinturão e Rota".
No contexto de um eventual aumento de tarifas pelos EUA, a China já começou a apostar na parceria com outros membros do grupo, incluindo o Brasil, ampliando influência no país latino-americano.
Nos primeiros nove meses de 2024, o comércio exterior da China com outros países membros do BRICS atingiu US$ 648 bilhões, segundo a mídia chinesa, com as nações do BRICS ocupando a parcela cada vez maior nas importações da China.
Perante as ameaças de Trump, o país asiático reiterou seu compromisso de "aprofundar a cooperação prática em diversas áreas e contribuir mais para o crescimento sustentado e estável da economia global", lançando um desafio para nova administração norte-americana.
Participação do Indo-Pacífico
A ampliação do BRICS aumenta exponencialmente a influência do grupo em várias regiões do mundo, incluindo o Indo-Pacifico, um dos possíveis focos principais da política externa de Trump.
China, Índia e Indonésia, os países mais populosos da região, já são membros plenos do grupo. Malásia e Tailândia já manifestaram seu desejo de se aderir ao grupo, sendo parceiros oficiais do BRICS.
Peso político e mundo multipolar
O BRICS, que inclui dez países membros e nove parceiros oficiais, representa, segundo as informações recentes do Fôrum Econômico Mundial, mais de 40% da população da Terra, reunindo pessoas de várias partes do globo.
Tendo em conta as particularidades de cada membro, o BRICS buscam fomentar mundo multipolar baseado no respeito pelos interesses de cada nação.
Isso, por sua vez, oferece uma visão alternativa aos países que buscam livrar-se do controle do Ocidente.
De acordo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, os países do BRICS "compartilham aspirações e valores semelhantes, além de uma visão de uma nova ordem mundial democrática, que reflete a diversidade de culturas e civilizações".
Por esses motivos, o BRICS ameaça a hegemonia dos EUA ao impulsionar a desdolarização e fortalecer alianças globais, promovendo uma ordem mundial multipolar que reduz o domínio econômico norte-americano.