'Terrivelmente espancado': deputado ucraniano relata tortura por serviço de segurança do país

Critico da perseguição do governo de Kiev à Igreja Ortodoxa Ucraniana canônica, Artiom Dmitruk foi submetido a tortura e obrigado a gravar um vídeo prometendo nunca criticar Vladimir Zelensky.

O parlamentar ucraniano Artiom Dmitruk, que deixou o país no ano passado após denunciar perseguições das autoridades, revelou, em vídeo publicado nesta segunda-feira (13) em seu canal no YouTube, os abusos que sofreu nas mãos do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).

Dmitruk afirma que foi sequestrado por agentes do SBU em março de 2022, enquanto estava em um posto de controle em Odessa, como parte das forças de defesa territorial. Segundo ele, a abordagem ocorreu depois de parar um veículo do SBU que desrespeitava regras de trânsito.

No dia seguinte, Dmitruk e dois assistentes foram abordados na rua por um grupo armado. Ele relatou que foi espancado até perder a consciência. Quando acordou, estava em um ônibus com a cabeça coberta por um saco e, em seguida, foi levado para um porão.

"Jogaram-me no chão frio e úmido. Perto, eu ouvia os gritos dos meus amigos. Mais ao longe, gemidos de outras pessoas e sons horríveis de tortura. Foi a primeira vez na vida que ouvi algo assim", disse Dmitruk no vídeo.

"Parecia interminável para mim"

Ele contou que foi espancado, teve os dedos torcidos e ouviu dos agressores que era um "prazer pular em cima de um deputado do povo". Durante o interrogatório, foi acusado de traição e submetido a uma sessão de torturas que, segundo ele, parecia interminável.

"Me bateram terrivelmente. Perdi a consciência várias vezes e caí da cadeira. Quando recobrava os sentidos, voltavam a me torturar. Parecia não ter fim", afirmou.

Dmitruk revelou que os agentes simularam jogá-lo de um telhado, ameaçaram atirar nele e a amputar seus órgãos genitais. "Eles também pressionaram meus olhos com os dedos", acrescentou. O objetivo, segundo ele, era justificar sua prisão com falsas acusações.

Ele relatou ainda que foi obrigado a gravar um vídeo prometendo que nunca criticaria o líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, seu chefe de gabinete Andrei Yermak ou o prefeito de Odessa, Guennadi Trukhanov. Também foi coagido a abandonar suas atividades políticas e sociais. Após a gravação, foi deixado em um estacionamento, com ordens de não relatar o ocorrido.

Dmitruk apresentou imagens mostrando as consequências das torturas, como um olho inchado, lábios cortados e dentes quebrados. "É possível ver o formato do meu crânio, o nariz quebrado em várias partes, lábios e dentes quebrados, várias escoriações, orelhas machucadas", descreveu.

Crítico da perseguição do governo de Kiev à Igreja Ortodoxa Ucraniana canônica, Dmitruk deixou a Ucrânia em agosto de 2024, alegando que autoridades planejavam assassiná-lo.