Ucrânia, Trump, Maduro e conflito global: Lavrov resume os resultados de 2024
O chanceler russo, Sergey Lavrov, discursou em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira analisando os acontecimentos do ano passado. O evento, que contou com a participação de jornalistas russos e estrangeiros, foi realizado em Moscou, no centro de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
De acordo com Lavrov, após o fim da Guerra Fria, o Ocidente pensou que a URSS havia sido eliminada para sempre e que eles poderiam ser guiados não pela Carta da ONU, mas por seus próprios desejos.
Naquela época, a China ainda não havia alcançado um sucesso tão grande em termos de desenvolvimento econômico e influência política, e o Ocidente não encontrou resistência séria, acrescentou.
Moscou deve agora repelir "a guerra lançada pelo Ocidente coletivo", cujo principal objetivo é suprimir a Rússia e minar seu potencial estratégico.
O chanceler russo também denunciou que o lado que se opõe à multipolaridade baseia-se no fato de que ela não tem um estatuto escrito e "entra em todos os mosteiros, mesquitas, templos budistas e sinagogas com seu estatuto".
Conflito ucraniano
A Rússia está mais preocupada com o destino das pessoas do que com a terra, disse Lavrov referindo-se ao conflito ucraniano. “Não estamos falando de terras, estamos falando de pessoas que vivem nessas terras há séculos. Eles as construíram do zero, construíram cidades, fábricas, portos”, indicou o chanceler.
EUA se beneficiam cada vez mais dos conflitos
O diplomata russo destacou que os Estados Unidos estão se beneficiando cada vez mais dos conflitos, como aconteceu durante as guerras mundiais. Enquanto isso, os Estados Unidos têm inúmeros problemas, com o aumento da pobreza, acrescentou, observando que o valor dos danos causados pelos incêndios na Califórnia é comparável ao dinheiro que investiram na Ucrânia.
Lavrov também acusou os EUA e a Ucrânia de planejar a destruição do gasoduto Turkish Stream. O chanceler russo afirmou que Washington deu "sinal verde para que eventos terroristas destruíssem as bases do bem-estar energético da União Europeia".
"Deixar para o próximo governo uma última pedra no caminho"
O ministro acredita que o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, pretende sabotar o início do trabalho da equipe do próximo presidente Donald Trump.
"Os democratas têm esse tipo de hábito na política norte-americana: deixar para a próxima Administração uma última pedra no caminho", afirmou, lembrando que o ex-presidente Barack Obama fez algo semelhante quando "expulsou 120 funcionários diplomáticos russos" três semanas antes de passar o poder para Trump.
Questão da Groenlândia
Entre outras coisas, o chefe da diplomacia russa enfatizou que as nações têm o direito à autodeterminação, referindo-se ao desejo do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de entrar em negociações com a Dinamarca sobre a eventual aquisição da Groenlândia.
De acordo com Lavrov, os groenlandeses devem primeiro ser ouvidos, assim como a Rússia ouviu os residentes da Crimeia, Donbass e das províncias de Kherson e Zaporozhie.
"Todos devem respeitar a integridade territorial de um Estado no qual o governo representa todos os povos do território. Se os groenlandeses sentirem que seu governo não os representa, eles têm o direito à autodeterminação", enfatizou.
"O Ocidente está afetado por sua autoproclamada grandeza e impunidade"
O chanceler russo argumentou que o Ocidente "está afetado" por sua "autoproclamada grandeza e impunidade e por seu direito auto-atribuído de governar os destinos do mundo".
Essa foi a resposta de Lavrov à RT en Español, que lhe pediu para comentar sobre o reconhecimento pelos EUA e por algumas nações latino-americanas de Edmundo González como presidente da Venezuela, apesar da posse de Nicolás Maduro como o legítimo presidente eleito do país.
O ministro disse que essa "atitude de desdenho" das nações ocidentais é prova de sua "presunção" e "desprezo pelo resto do mundo".
Ele denunciou também que para o Ocidente "democracia significa apenas uma coisa: fazer o que eles [as potências ocidentais] quiserem".
Situação no Oriente Médio
O ministro russo também garantiu que a Rússia não está se retirando do Oriente Médio. De acordo com Lavrov, a Embaixada russa permanece em Damasco e mantém contatos diários com as novas autoridades sírias. "Queremos contribuir para normalizar a situação", declarou.
O chefe da diplomacia russa ressaltou que os eventos na Síria ocorreram em grande parte porque as autoridades caíram na tentação de "não mudar nada" nos últimos anos. "Houve uma desaceleração no processo político", indicou.
"Um dos polos poderosos da ordem mundial multipolar emergente"
Falando sobre a América Latina, Lavrov destacou que é "um dos polos poderosos da ordem mundial multipolar emergente". "Temos amplas relações com quase todos os países [latino-americanos]", acrescentou o ministro.