Intercept Brasil: Relatórios inéditos comprovam que FHC espionou MST e adversários políticos

O veículo alega ter obtido acesso a centenas de relatórios da Subsecretaria de Assuntos Estratégicos.

Uma nova reportagem do Intercept Brasil publicada nesta quarta-feira (27/12) afirma que o Governo Federal, durante o comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, espionou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), segmentos do Partido dos Trabalhadores (PT) e líderes da oposição.

Paulo Motoryn, autor da publicação, afirma ter obtido acesso a centenas de relatórios produzidos pela Subsecretaria de Assuntos Estratégicos, a SAE (entidade que precede a Abin, Agência Brasileira de Inteligência).

O conteúdo dos documentos revelaria que o serviço de inteligência teria, entre 1995 e 1999, infiltrado agentes e informantes em reuniões do MST em diversos estados brasileiros e produzido relatórios interceptando sua comunicação interna.

O levantamento da Intercept sugere que a SAE produziu também relatórios de inteligência detalhando a estrutura, os líderes, as atividades e os objetivos de cada uma das correntes internas do PT, principal partido de oposição a FHC à época.

Os relatórios indicariam ainda que a gestão FHC dedicou atenção especial à espionagem de João Pedro Stédile, dirigente do MST, chegando a produzir dossiês documentando suas viagens pelo Brasil que incluiriam até mesmo atividades de caráter pessoal. Stédile, no entanto, não teria sido o único:


O governo FHC produziu até um "almanaque" de lideranças com detalhes sobre seu perfil político-psicológico. O documento confidencial, produzido em 1999, revela informações sobre coordenadores do MST no estado do Ceará, detalha aspectos íntimos e informações sensíveis das lideranças. Os integrantes do movimento são descritos com detalhes sobre sua atuação, participação em eventos, ocupações de terras e poder de mobilização – uma catalogação tão detalhada das atividades que fica evidente um enorme esforço para vigiar ou reprimir as ações do movimento.



As descrições de cada liderança trariam consigo ênfase em aspectos ideológicos. É ressaltado, por exemplo, que as mais radicais possuem "tendências à confrontação direta para impor ideais revolucionários".

O jornalista adverte ainda que como a Lei de Acesso à Informação determina a divulgação de documentos ultrassecretos apenas depois de 25 anos, "a dimensão e os abusos da espionagem política sob FHC podem ser ainda maiores".