
Nicolás Maduro toma posse como presidente da Venezuela

Nesta sexta-feira, o presidente reeleito da Venezuela, Nicolás Maduro, tomou posse, quase seis meses após vencer as eleições presidenciais em 28 de julho.
Após sua vitória, o cenário político venezuelano foi abalado pela desconsideração dos resultados por um grupo da oposição, que desencadeou atos de violência, tensões diplomáticas e desmantelamento de planos de golpe.
Maduro, que inicia seu terceiro mandato em 10 de janeiro, foi empossado em Caracas por Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional (AN), no Palácio Legislativo Federal, onde seus partidários se reuniram desde o início da manhã.
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— RT Brasil (@rtnoticias_br) January 10, 2025
Na cerimônia de posse, o presidente recebeu de Rodríguez a faixa presidencial com as cores da bandeira venezuelana, bordada por um grupo de homens e mulheres que o acompanharam, e o colar com a chave da arca que guarda o Ato de Independência de 1811.
A cerimônia contou com a presença de deputados, membros do gabinete, do alto comando militar, chefes dos cinco poderes do governo, chefes de estado, chefes de estado, representantes internacionais de alto escalão e corpo diplomático. Pouco mais de cinco meses se passaram desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro presidente eleito.
Nesse período, houve uma sucessão de eventos cujo eixo central foi a correlação de forças entre o setor mais à direita da oposição venezuelana - que buscou a todo custo impedir a posse do presidente - e as autoridades venezuelanas, que desmantelaram planos desestabilizadores de todos os tipos.

O que acontecerá em 10 de janeiro?
A Constituição de 1999 estabeleceu o dia 10 de janeiro como a data para o presidente eleito assumir oficialmente o cargo. No entanto, nas semanas anteriores, o ex-candidato presidencial Edmundo González, fugitivo da justiça venezuelana, declarou do exterior que tomaria posse nesse dia, apesar de não ter sido proclamado pelo mais alto órgão eleitoral e de não estar na Venezuela desde setembro passado, quando partiu para a Espanha, que lhe concedeu asilo político.
Embora não pareça haver nenhuma surpresa com relação à proclamação de Maduro, que será realizada de acordo com as disposições da Carta Magna, há expectativas sobre o desempenho do Delfim de María Corina Machado, de direita, que tem uma série de investigações em aberto.
González disse inicialmente que se mudaria para a Venezuela para assumir a presidência, mas não há uma data precisa, já que no dia anterior, da República Dominicana, ele enviou uma mensagem ambígua que dizia: "Nos veremos muito em breve em Caracas, liberdade". Embora o líder de um setor da oposição tenha colocado essa possibilidade sobre a mesa, o governo venezuelano cortou suas asas e disse que, assim que ele entrar no país, será preso.

Antes de deixar seu país, González assinou um acordo com a vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez e o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, no qual reconhecia a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que validou a reeleição de Maduro, e se comprometia a limitar suas aparições públicas.
Como nenhum desses aspectos foi cumprido, o Ministério Público da Venezuela, que havia encerrado a investigação contra ele, decidiu reabri-la em novembro passado e acusá-lo dos crimes de conspiração, usurpação de funções, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro, desrespeito às instituições do Estado, entre outros.
Águas internacionais problemáticas
Os eventos eleitorais venezuelanos tendem a ter um impacto internacional que transcende a esfera doméstica. Enquanto no país sul-americano a reeleição de Maduro foi assumida de forma pacífica, independentemente da posição política dos eleitores, no exterior alguns governos e atores políticos adversos ao chavismo buscaram reeditar o reconhecimento que deram ao ex-deputado Juan Guaidó, que em 2019 se autoproclamou "presidente encarregado", o que desencadeou uma complexa crise política.
Nações e governos que tradicionalmente apoiavam Machado e outros setores da oposição expressaram dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral e, por fim, repudiaram a vitória de Maduro. Isso fez com que Caracas retirasse sua equipe diplomática da Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai e rompasse relações com o Paraguai.
Outro aspecto dessas tensões internacionais foi exposto entre os chefes de Estado com os quais a Venezuela teve laços territoriais, diplomáticos ou ideológicos. Após as eleições, os governos do Brasil, Colômbia e México expressaram suas dúvidas sobre o processo eleitoral, mas pediram a resolução dos conflitos internamente, sem interferência externa.

Embora o México tenha se mantido constante nessa política de respeito à soberania, o Brasil e a Colômbia expressaram suas desconfianças e houve um distanciamento de Caracas, que foi expresso em declarações dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, que inclusive votou contra a entrada da Venezuela no BRICS, e Gustavo Petro.
Ambos, em diferentes ocasiões, questionaram a confiabilidade do sistema democrático do país vizinho - que respondeu em certas ocasiões às acusações - embora não tenham se distanciado completamente da Venezuela, como fizeram seus antecessores Jair Bolsonaro e Iván Duque, respectivamente.
Com relação aos EUA, que não reconhecem a presidência de Maduro desde seu segundo mandato, as autoridades venezuelanas apontaram que Washington tem fornecido apoio e financiamento aos opositores que buscam derrubar o presidente. Nessa ocasião, as expectativas apontam para o tipo de relação que Caracas terá com Donald Trump, cuja primeira presidência foi marcada por uma relação dura com a Venezuela, caracterizada pela intensificação de medidas coercitivas e ações para depô-lo.
Planos violentos
Até poucos dias antes de sua posse, Maduro se referia à captura em território venezuelano de mercenários estrangeiros, cuja missão era cometer assassinatos seletivos para gerar violência e desestabilização. Somente entre novembro e dezembro de 2024, de acordo com os números fornecidos por ele, 125 pessoas foram presas por esses motivos.
A Venezuela tem denunciado esses esquemas desde que Hugo Chávez era presidente e tem mostrado evidências para apoiar suas alegações. Até o momento, nenhum governo apresentou argumentos probatórios para refutá-las que vão além de exigir sua saída.

A violência e a política não são estranhas à vida nacional venezuelana. Em 2014, 2017, 2019 e 2024, houve eventos que interromperam a coexistência pacífica e causaram vítimas principalmente dentro das fileiras chavistas. Em todas as ocasiões, eles foram liderados por setores extremistas da oposição que ignoraram repetidamente a legitimidade das instituições.
A esse respeito, alguns analistas têm sido cautelosos sobre se, como aconteceu após as eleições de julho, haverá novamente algum tipo de violência. Por sua vez, o chefe do Ministério de Relações Interiores, Diosdado Cabello, declarou nas últimas horas que, diante de qualquer evento violento que perturbe a paz, os autores "serão enfrentados com um povo, com as Forças Armadas e a Polícia".