Duas injeções por ano do medicamento lenacapavir garantem 99% de proteção contra o HIV, de acordo com os resultados da terceira fase de testes clínicos da empresa norte-americana de biotecnologia Gilead, publicados recentemente na revista The New England Journal of Medicine.
"Ver esses níveis de eficácia - quase 100% - em um tratamento que as pessoas só precisam tomar a cada seis meses é incrível", disse a principal autora do estudo, Colleen Kelley, da Universidade Emory. É, segundo ela, "um avanço considerável e profundo na medicina, especialmente para as pessoas cujas situações não lhes permitem tomar medicamentos orais diariamente e para aquelas que estão entre as populações desproporcionalmente afetadas pelo HIV".
Durante a terceira fase de estudos clínicos duplo-cegos e randomizados, 99% dos participantes injetados com lenacapavir não foram infectados pelo HIV. Apenas dois casos de infecção foram detectados entre as 2.179 pessoas.
Os pesquisadores também testaram a eficácia do Truvada, um medicamento usado como PrEP (profilaxia pré-exposição) que deve ser tomado diariamente para garantir a prevenção do HIV. Nove dos 1.086 participantes do estudo que tomaram a pílula oral diariamente pegaram o vírus.
Kelley explicou que o principal problema com as pílulas diárias de PrEP é que "cerca de metade" das pessoas que começam a tomá-las param de tomá-las "dentro de um ano" devido a "vários fatores", incluindo o acesso limitado ao medicamento. Para aqueles que não podem se dar ao luxo de tomar as pílulas diariamente, as injeções semestrais podem ser cruciais para se manterem soronegativos, acrescentou.
Problema do preço
O lenacapavir não é uma vacina, nem um medicamento totalmente novo. A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA o aprovou para uso terapêutico já em 2022, e está em processo de revisão dos resultados da terceira fase de testes clínicos da Gilead para aprová-lo como PrEP. Kelley espera que ele seja aprovado em 2025 para uso comercial.
Comercializado sob a marca Sunlenca, o lenacapavir já é usado nos EUA, no Canadá e na Europa, entre outras regiões, para o tratamento do HIV em combinação com outros medicamentos antirretrovirais.
No entanto, o alto preço do medicamento levanta sérias preocupações sobre sua ampla acessibilidade à população. Enquanto países como Noruega, França, Espanha e Estados Unidos pagam mais de US$ 40 mil (cerca de R$ 242 mil) por ano pelo Sunlenca, esse preço o torna inacessível para nações mais pobres.
Nesse contexto, a Gilead anunciou no início de outubro que tinha assinado acordos com seis empresas farmacêuticas para permitir que elas fabricassem e fornecessem injeções de lenacapavir de alta qualidade e baixo custo para 120 países, principalmente de baixa e média renda. Os especialistas estimam que o medicamento poderia ser produzido a um preço de apenas US$ 40 (cerca de R$ 242) quando a produção de medicamentos for ampliada para atender a 10 milhões de pessoas.