Tarifas de Trump não terão grande impacto nos planos de desdolarização do BRICS, preveem analistas

"Não é uma tendência que será determinada pelo que acontece nos próximos quatro anos", explicou um especialista à imprensa chinesa.

No sábado, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor tarifas comerciais de 100% contra produtos de países do BRICS caso o grupo avance na criação de uma moeda alternativa ao dólar. 

Mesmo se concretizadas, as medidas não seriam eficientes para deter os planos de longo prazo da China para o yuan, preveem analistas consultados pelo SCMP. Isso porque apesar de Pequim ser responsável por 17% da produção econômica global, a participação de sua moeda em pagamentos internacionais, reservas cambiais e na precificação de commodities está aquém do que seria esperado para um país com essa magnitude econômica.

Medidas importantes têm sido tomadas para acelerar a ascensão internacional do yuan e de outras moedas emergentes. Dentre elas, está o anúncio, por parte do governo chinês, da criação de 40 linhas bilaterais de swap com outras nações, permitindo que elas troquem suas moedas locais pelo yuan. Além disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (o Banco do BRICS) se comprometeu a aumentar em 30% a quantidade de empréstimos feitos em moedas locais até 2026.

Para Zhu Feng, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Nanjing, o processo de internacionalização de moedas alternativas ao dólar é algo que levará décadas. "Não é uma tendência que será determinada pelo que acontece nos próximos quatro anos", explica.

Além disso, cada vez mais países estão buscando alternativas à moeda norte-americana, motivados fundamentalmente pela crença de que o dólar está se tornando cada vez mais "perigoso", explicou Paulo Nogueira Batista Jr, ex-diretor-executivo do FMI e ex-vice presidente do Banco do BRICS, em uma entrevista à RT em outubro.

"Se você olhar para a situação financeira dos EUA, ela não é brilhante. Várias dívidas, e nenhuma tendência de diminuir essas dívidas, que só crescem em proporção ao PIB dos EUA. (...) Então até em termos financeiros, a confiança no dólar está diminuindo", apontou à época. 

"Mas a principal razão é que estão transformando o dólar em uma arma quase militar para minar países vistos como hostis pelo Ocidente", acrescentou, observando que as sanções impostas contra a Rússia criam incerteza e motivam países como a China, detentora de trilhões de dólares em reservas nos EUA e na Europa, a buscar por alternativas.