O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciado pela Polícia Federal por suposta participação em um esquema que visava um golpe de Estado, afirmou ser alvo de perseguição e admitiu ter discutido com as Forças Armadas a possibilidade de "voltar a discutir o processo eleitoral" após as eleições de 2022. As informações foram divulgadas pelo Uol nesta quinta-feira.
"Vivemos num mundo das arbitrariedades. Agora eu não posso ir dormir preocupado de que a PF vai estar na minha casa amanhã cedo. Eu já tive 3 [operações de] busca e apreensão, tá? Absurdas, absurdas. Corro risco, sem dever nada, corro risco. [O STF] Vai fazer a arbitrariedade, vamos ver as consequências", desabafou Bolsonaro.
O ex-presidente também mencionou que buscar refúgio em uma embaixada poderia ser uma opção caso seja considerado culpado pelo suposto plano golpista. "Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá. Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado", afirmou em entrevista ao Uol.
Bolsonaro ainda comentou sobre suas conversas com as Forças Armadas, afirmando que discutir o processo eleitoral "não é crime". Ele respondia à pergunta sobre a minuta apontada no relatório da PF, onde era proposta a declaração de estado de defesa ou estado de sítio para anular as eleições, dizendo: "Minuta do golpe é baseada na Constituição. Para que serve a Constituição? É a nossa lei máxima. Eu entendo que ali é um norte para você seguir. Se tem um remédio ali, por que não discutir?".
Além disso, o ex-presidente negou ter conhecimento de um plano para prender ou assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. "Que plano era esse? Dar um golpe com um general da reserva, 3 ou 4 oficiais e 1 agente da PF? Que loucura é essa?", questionou, acrescentando: "Pelo que sei, o Alexandre não sai de casa com menos de 6 agentes do lado dele. Isso aí é até bravata. É papo de quem tem minhoca na cabeça. Sequestrar, envenenar, matar. Matar o Alckmin? Não dá. Pra quê?", concluiu.
O político também confirmou que vai manter sua candidatura à Presidência nas eleições de 2026. Eu vou. "Sou um cidadão. Sou um réu sem crime. Fui condenado [tornado inelegível pelo TSE] sem crime nenhum".
Relatório da PF
Na última terça-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu levantar o sigilo do relatório final da Polícia Federal (PF) que investiga um plano de golpe de Estado no Brasil em 2022. O documento, que conta com mais de 800 páginas, traz à tona as conclusões da PF sobre um esquema supostamente elaborado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2023.
A investigação resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo o próprio Jair Bolsonaro. O relatório foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora avaliará a possibilidade de apresentar uma denúncia formal contra os envolvidos.