'Os franceses não apitam mais nada', diz Lula em discurso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta quarta-feira que a França "não apita nada" em relação ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Lula fez suas declarações durante a abertura do Encontro Nacional da Indústria de 2024, em Brasília.
Segundo Lula, a decisão cabe à Comissão Europeia, que pode avançar sem a participação dos franceses. Ele expressou seu desejo de assinar o acordo ainda em 2024.
"Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul. Nem tanto pela questão de dinheiro, nós vamos porque eu estou há 22 anos nisso e nós vamos fazer. E se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. E a Ursula von der Leyen tem procuração para fazer o acordo e eu pretendo assinar esse acordo este ano ainda", afirmou o presidente.
Na última semana, rede francesa de hipermercados Carrefour causou um impasse com o agronegócio brasileiro ao declarar um boicote às carnes brasileiras. Isso provocou uma represália de frigoríficos brasileiros, que suspenderam o fornecimento de carnes às redes no país, embora essa situação já tenha sido normalizada.
Atualmente, a França mantém sua posição de não comprar carnes de produtores de países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), mas isso não tem um impacto significativo, uma vez que a França já importa uma quantidade muito reduzida de proteína animal desses países.
O CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, justificou a decisão de boicotar as carnes do Mercosul, afirmando que os produtos sul-americanos não atendem às exigências e normas francesas, o que tem causado críticas entre os produtores franceses.
Estados Unidos
No seu discurso, Lula defendeu a busca por novos mercados para os produtos brasileiros e anunciou que pretende viajar com empresários ao Japão e ao Vietnã em março de 2025. O presidente também destacou que deseja fortalecer a economia brasileira sem "brigar" com os Estados Unidos, especialmente com a volta de Donald Trump ao governo em janeiro, que promete uma política protecionista.
"Eu quero fazer tudo isso sem brigar com os Estados Unidos. Eu não quero saber se o presidente é o Trump, Biden, Obama. Eu quero saber o seguinte, o Brasil tem interesses soberanos, eles têm interesses soberanos e os nossos interesses têm que convergir. Naquilo que houver tiver diferença, a gente tranca a cara e não faz negócio", disse Lula.