Para lidar com questões emocionais e buscar autoconhecimento, jovens russos têm deixado as cidades para passar temporadas em mosteiros ortodoxos.
A prática, conhecida como "monastyring", derivada da palavra russa monastyr (mosteiro), tem recebido diversos comentários, em sua maioria positivos, segundo a mídia local.
A estadia envolve atividades como jardinagem, limpeza, auxílio no refeitório e participação em missas. Em troca, os participantes recebem alimentação e hospedagem.
O interesse pelo tema cresceu após uma blogueira russa publicar nas redes sociais um vídeo sobre sua estadia em um mosteiro. Ela e a irmã passaram cinco dias no convento de São João Batista, localizado na vila de Sviyazhsk.
Reação do público
Após a publicação, internautas começaram a compartilhar experiências e discutir o desejo de viver em mosteiros ortodoxos. Alguns afirmam que a prática pode substituir a psicoterapia, oferecendo uma pausa da rotina urbana e a oportunidade de refletir sobre si mesmos.
"O trabalho nunca transformou um homem em um macaco", comentou um internauta. "Uma ótima maneira de se distrair, estou pensando nisso também", afirmou outro.
Ainda assim, praticantes ressaltam que o "monastyring" não é apenas uma moda ou uma forma de relaxamento. "Se for apenas para seguir uma tendência, isso não está certo. As abadessas e freiras não se sentiriam confortáveis com isso", disse à Forbes Anastasia Biankina, de 25 anos, que visitou um mosteiro em 2024 e compartilhou sua experiência online.
"Muitas vezes dizem que substitui psicólogos caros. Isso não é verdade. Um psicólogo tem sua função, mas essa prática é algo diferente", completou ela.
Regras nos mosteiros
Durante a estadia, os visitantes devem seguir normas rigorosas: não é permitido o uso de drogas, álcool, armas ou violência, assim como o uso de linguagem imprópria. Fotografar e filmar também podem ser proibidos.
O período de permanência é flexível, variando entre um dia, duas semanas ou até um mês, dependendo do visitante.
Para que serve?
Uma pesquisa do Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia revelou que jovens entre 18 e 34 anos tendem a se identificar como "não crentes", diferentemente de gerações anteriores. Então, por que buscar refúgio em locais religiosos?
Psicólogos explicam que os "zoomers", ou Geração Z, valorizam experiências que promovam desenvolvimento pessoal.
"Nos mosteiros, eles encontram respostas claras para questões sobre o que fazer e o que evitar. As informações são apresentadas de forma estruturada", destacou Vladislav Sotnikov, psicólogo e professor da Universidade Médica de Pesquisa Nacional Russa Pirogov.
Invenção dos Zoomers?
Apesar da popularidade entre os jovens, a prática não é novidade. Conhecida como "trudnichestvo", é uma tradição ortodoxa de trabalho voluntário em mosteiros e templos "realizado para a glória de Deus".
Antes da revolução russa, camponeses do norte tinham o costume de enviar um dos filhos para trabalhar no mosteiro de Solovetsky por um ano. Após o período, o jovem decidia entre se tornar monge ou retornar para casa.
Hoje, o trabalho voluntário continua em mosteiros e igrejas. Os participantes podem morar no local ou ajudar durante o dia e voltar para casa ao final das atividades.