"G20 inédito e inovador": secretário-geral de Lula minimiza divergências e exalta sucesso da cúpula

Em uma entrevista exclusiva à Michele de Mello, correspondente da RT no Brasil, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, fez um balanço da Cúpula de Líderes do G20, realizada nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.

"O balanço é altamente positivo. A presidência brasileira do G20 foi inédita e inovou de forma muito consistente. Criou o G20 Social, que foi um debate extraordinário", afirmou o ministro, referindo-se à iniciativa que possibilitou a participação de milhares de cidadãos e movimentos sociais nos fóruns de discussão.

Nesse contexto, Macêdo destacou que muitas das pautas levantadas por esses segmentos estavam presentes na declaração dos chefes de Estado, com destaque para o enfrentamento das desigualdades, que uniu mais de 82 países e 60 organismos internacionais na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

"Em relação às mudanças climáticas também, o compromisso de financiamento para o enfrentamento das mudanças climáticas, o compromisso dos países de terem políticas públicas que vão na direção da sustentabilidade. E o compromisso dos países e dos organismos internacionais para fazer processo de debate de mudança da governança global".

"É natural que tenha divergência"

O ministro também minimizou as divergências manifestadas pelos representantes de diferentes países, destacando que elas "fazem parte do processo democrático e são naturais em uma reunião complexa".

A presidência brasileira do G20 foi alvo de críticas por parte da delegação argentina e também de representantes do regime de Kiev.

O embaixador ucraniano acusou o Brasil de desperdiçar uma oportunidade de mediar negociações de paz para o conflito ucraniano, enquanto o governo de Javier Milei lançou uma declaração à parte, ressaltando suas divergências sobre a Agenda 2030 da ONU e o papel do capitalismo.

"O G20 tinha outro papel nesse momento. E era muito complicado. Se você coloca isso como assunto oficial, o debate ia ser esse", explicou Macêdo em relação às críticas ucranianas, acrescentando que, apesar disso, os países tiveram a oportunidade de discutir as questões e de se pronunciarem livremente.

"A posição brasileira em relação aos conflitos é pública. O presidente Lula teve de forma muito corajosa a sua opinião explicitada. O Brasil tem uma cultura da paz. (...) E o documento final sinalizou para caminho de paz, caminho de construção de uma ação que possa cessar fogo em Gaza, de interromper escalada no Líbano e acabar com a guerra na Ucrânia".

Macêdo também elogiou a decisão de Buenos Aires, que optou por voltar atrás e aderir à iniciativa contra a fome.

"Foi um exercício de democracia muito interessante, porque quem tinha algum tipo de divergência, explicitou e registrou politicamente. Foi respeitada a opinião individual, mas, do ponto de vista de Estado, foi tomada a decisão correta e adequada para esse momento", afirmou.

"Retorno do Brasil ao protagonismo"

Em relação ao retorno do Brasil a um papel mais central na política internacional, Macêdo, que é uma figura constante nas viagens internacionais de Lula, declarou ser "testemunha de como o mundo comemorou a volta do Brasil" ao seu habitual protagonismo.

"O Brasil é país muito importante. O Brasil é uma das maiores economias do Cone Sul, é um país continental, miscigenado, é uma experiência única no mundo, é um país potente de povo maravilhoso, ordeiro, trabalhador. (...) O presidente Lula é muito respeitado como liderança mundial".

O ministro argumentou que essa retomada do protagonismo tem um impacto direto na vida dos cidadãos brasileiros, como no aumento da balança comercial do Brasil, no restabelecimento de relações comerciais e na recuperação da autoestima do país.

Esse protagonismo, acrescentou Macêdo, se concretiza não apenas pela presidência no G20, mas também durante o comando de instituições como o Mercosul, a CELAC e os diálogos entre países amazônicos.

Rumo à multipolaridade 

Quando questionado sobre a construção de uma ordem multipolar, o ministro destacou que ela permite a "sinalização para temas importantes":

"Paz no mundo, busca da paz, enfrentamento da fome, acabar com a fome no mundo, injeção do Sul global de forma protagonista no mundo, deslocamento de poder para outros países".

Ele também destacou que o atual arranjo das nações decorre de "uma correlação de forças que surgiu após a Segunda Guerra Mundial".

"Isso já não existe mais no mundo. Países ganharam protagonismo que não tinham naquele momento histórico, e os problemas da humanidade mudaram", defendeu, mencionando os apelos do presidente Lula por uma reforma nas instituições globais.