O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, renunciou ao cargo, o mais alto da Igreja Anglicana, assumindo total responsabilidade pela inação em relação a um pastor, já falecido, que abusou de crianças durante décadas sem enfrentar acusações criminais.
“Espero que essa decisão deixe clara a seriedade com que a Igreja Anglicana entende a necessidade de mudança e nosso profundo compromisso de criar uma igreja mais segura”, afirmou Welby, em declaração ao New York Times na terça-feira, acrescentando que “ao deixar o cargo, faço isso em pesar com todas as vítimas e sobreviventes de abuso”.
A renúncia de Welby ocorre após a publicação do Makin Review, uma investigação independente sobre os abusos cometidos por John Smyth, pastor de jovens que, entre as décadas de 1970 e 1980, espancou cruelmente alunos em um regime sádico. Smyth faleceu em 2018 sem ter enfrentado acusações criminais.
“Está muito claro que devo assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e traumatizante período entre 2013 e 2024”, disse Welby em sua carta de renúncia.
“Acredito que me afastar é do melhor interesse da Igreja Anglicana, que eu amo muito e à qual tive a honra de servir”, escreveu.
Welby também declarou que foi informado das acusações contra Smyth em 2013, quando assumiu o cargo de arcebispo, mas que “acreditou erroneamente que uma resolução apropriada viria em seguida”.
Quem era John Smyth?
John Smyth, advogado nascido no Canadá, envolveu-se com o Ministério Infantil da Igreja Anglicana. Ele morreu em 2018 enquanto era investigado por abusos. Nenhuma acusação criminal foi feita contra ele.
Segundo o relatório, Smyth usava sua posição de pregador leigo para selecionar meninos e jovens para seu "regime sádico e claramente sexualmente motivado" de violências.
Ele levava suas vítimas para sua casa e as açoitava, algumas vezes a ponto de precisarem usar fraldas devido ao sangramento.
O Makin Review estimou que pelo menos 100 jovens foram vítimas de Smyth, incluindo o futuro bispo Andrew Watson.
A Igreja Anglicana foi estabelecida no século XVI, durante o cisma entre o rei Henrique VIII e a Igreja Católica Apostólica Romana.
Embora o monarca inglês seja seu chefe titular, o arcebispo de Canterbury ocupa o cargo clerical mais alto.