Durante a entrevista com o jornalista norte-americano Tucker Carlson, o presidente russo Vladimir Putin disse que Moscou nunca se recusou a conduzir negociações sobre a resolução do conflito na Ucrânia, enquanto o mandatário ucraniano, Vladimir Zelensky, emitiu um decreto proibindo negociações com a Rússia.
"O presidente da Ucrânia proibiu legalmente as negociações com a Rússia. Ele assinou um decreto que proíbe todos de negociar com a Rússia. Mas como vamos negociar se ele proibiu a si mesmo e a todos os outros? Sabemos que [Zelensky] está apresentando algumas ideias sobre a resolução [do conflito]. Mas para concordar com algo é preciso diálogo, não é mesmo?", disse Putin.
Ao mesmo tempo, o líder russo lembrou que as negociações em que Moscou e Kiev se envolveram logo após o início da operação militar russa em fevereiro de 2022 "atingiram um nível muito alto" em termos de acordo sobre as posições de ambos os lados e "estavam quase concluídas".
"Mas depois que retiramos as tropas de Kiev, [...] a Ucrânia descartou todos esses acordos e levou em conta as instruções dos países ocidentais — países europeus e Estados Unidos — para lutar contra a Rússia até o fim", ressaltou Putin.
O chefe de Estado russo lembrou ainda que David Arajamia, um dos negociadores ucranianos que participou das conversações de paz com a Rússia na primavera de 2022 e que "colocou sua assinatura preliminar" no documento negociado pela Rússia e pela Ucrânia, "depois declarou publicamente ao mundo inteiro: 'Estávamos prontos para assinar esse documento, mas Boris Johnson, então primeiro-ministro do Reino Unido, veio e nos dissuadiu disso e disse que era melhor lutar contra a Rússia. Eles nos darão tudo para que possamos recuperar o que perdemos durante os confrontos com a Rússia. E nós concordamos com essa proposta'", disse Putin citando Arajamia.
"Eles serão capazes de voltar a isso ou não? Esta é a questão: eles querem ou não? E depois disso, o presidente da Ucrânia emitiu um decreto que proíbe a negociação conosco. Que ele cancele esse decreto e pronto. Nunca nos recusamos a negociar. Ouvimos o tempo todo: 'A Rússia está pronta? A Rússia está pronta?' Nunca nos recusamos! Eles se recusaram publicamente. Bem, que eles cancelem seu decreto e iniciem as negociações. Nunca nos recusamos", enfatizou Putin.
Além disso, o presidente russo disse que achava "absurdo" e "muito triste" que as autoridades ucranianas "tenham se submetido às exigências ou persuasões" de Boris Johnson. "Porque, como disse Arajamia, 'há um ano e meio poderíamos ter parado essas hostilidades, parado essa guerra, mas os britânicos nos persuadiram e nós recusamos'. Onde está o Sr. Johnson agora? E a guerra continua", apontou Putin.
"Por que ele fez isso?", perguntou Tucker.
"Quem diabos sabe, eu também não entendo. Havia uma atitude geral. Por alguma razão, todos tinham a ilusão de que a Rússia poderia ser derrotada no campo de batalha; seria arrogância, ou sinceramente, mas não com grande inteligência", concluiu Putin.