Em 2023, das 4.025 mortes causadas por policiais no Brasil, 2.782 vítimas eram negras, representando 87,8% do total, de acordo com um estudo da Rede de Observatórios da Segurança divulgado nesta quinta-feira pela Agência Brasil.
O relatório "Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão", que é a quinta edição do boletim, utilizou dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação em nove estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
O estudo destaca que os jovens entre 18 e 29 anos são as principais vítimas, com o Ceará apresentando a maior taxa nessa faixa etária, com 69,4% do total das mortes no estado.
Além disso, o levantamento revela que 243 das vítimas eram adolescentes entre 12 e 17 anos.
"Números escandalosos"
A Bahia foi o estado com o maior número de vítimas entre os nove analisados, com 1.702 mortes, um índice que se tornou o segundo mais alto registrado desde 2019.
Silvia Ramos, cientista social e coordenadora da Rede, classificou os números como "escandalosos" e apontou que eles refletem um problema estrutural no Brasil: o racismo presente em diversas áreas, como educação, saúde, mercado de trabalho e segurança pública.
"Ao entrar na polícia, o policial aprende a tratar um jovem branco, vestido de terno, em uma cidade, de maneira diferente de um jovem negro, de bermuda e chinelo, em uma favela. A verdade é que 99,9% dos jovens negros das favelas e periferias estão de bermuda e chinelo. E todos acabam sendo vistos como perigosos e como possíveis alvos, que a polícia pode matar, se necessário", afirmou a pesquisadora.