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Tucker Carlson entrevista o presidente russo Vladimir Putin

Segundo o jornalista, a maioria da população americana "não tem ideia" do que está acontecendo na Rússia e na Ucrânia.
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O presidente russo, Vladimir Putin, cedeu uma entrevista esta semana ao jornalista norte-americano Tucker Carlson, que alegou que queria realizar tal conversa porque o público dos Estados Unidos desconhece totalmente o que está acontecendo na Rússia e na Ucrânia.

"Isso não está certo. Os americanos têm o direito de saber tudo sobre a guerra em que estão envolvidos, e nós temos o direito de contar a eles", destacou.

História da Rússia e da Ucrânia

No início da entrevista, Putin apresentou "uma breve visão geral histórica" da criação e do desenvolvimento da Rússia e da Ucrânia e de suas relações. Ele disse que a Rússia começou a se formar como um estado centralizado em 862 e, posteriormente, desenvolveu-se como um estado com dois centros: um em Kiev e outro em Novgorod.

Durante a conversa, o líder russo lembrou Carlson dos eventos históricos que antecederam a criação da Ucrânia como um estado soberano e o período de dissolução da União Soviética. Putin enfatizou que foram as autoridades russas que iniciaram o processo de dissolução da URSS. Na opinião do presidente russo, havia vários motivos para isso. O primeiro foi o fato de os líderes russos acreditarem que "as bases fundamentais das relações russo-ucranianas", como história, religião e cultura comum, constituem "a base da inevitabilidade de nossas boas relações".

Outro motivo foi o fato de as autoridades russas acreditarem que, após a dissolução da URSS, não havia mais "linhas divisórias ideológicas" e o fim da União Soviética seria entendido no Ocidente como "uma proposta de cooperação e aliança". Depois de 1991, a Rússia esperava se juntar ao mundo ocidental, mas "fomos enganados" e cinco ondas de expansão da OTAN se seguiram, observou Putin.

Questionado sobre os motivos do Ocidente para se recusar a se aproximar da Rússia, ele disse que "só pode supor", acrescentando que eles incluem o fato de que a Rússia "é um país grande demais" que tem sua própria opinião.

Putin lembrou que a OTAN estava se expandindo, incluindo os países bálticos, toda a Europa Oriental e até mesmo a Ucrânia, prometendo à Ucrânia e à Geórgia em 2008 que as portas do bloco estavam abertas para eles. Nesse contexto, Putin explicou que os presidentes ucranianos tinham o apoio do eleitorado "que tinha uma atitude positiva em relação à Rússia" e lembrou que Moscou cooperou com o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych quando a questão da associação da Ucrânia com a UE foi levantada durante seu mandato.


A Rússia "sempre foi muito leal" a esse respeito, mas o tratado de associação acabou se tornando "um problema" para Moscou, pois os dois países tinham uma área de livre comércio e "fronteiras alfandegárias abertas", mas, de acordo com o pacto, a Ucrânia tinha que abrir suas fronteiras para a UE. Em resposta, a Rússia prometeu fechar suas fronteiras e Yanukovych disse a seus colegas europeus que precisava de tempo para tomar uma decisão sobre a parceria. "Assim que ele disse isso, começaram as ações destrutivas da oposição apoiada pelo Ocidente e tudo levou ao Maidan e ao golpe de Estado na Ucrânia", enfatizou o chefe de Estado russo.

"Em 2008, abriram as portas da OTAN para a Ucrânia, em 2014 realizaram um golpe e começaram a perseguir aqueles que não reconheceram o golpe, que foi um golpe, criaram uma ameaça à Crimeia, que fomos forçados a tomar sob nossa proteção, iniciaram uma guerra em Donbass."

Nesse contexto, perguntou como a Rússia podia não demostrar preocupação por esses acontecimentos. "Isso teria sido um descuido criminoso de nossa parte", afirmou.

Conflito armado e desnazificação da Ucrânia

O presidente russo observou que "o gatilho para os últimos acontecimentos" foi o fato que as autoridades ucranianas terem admitido que não planejavam cumprir os Acordos de Minsk, assinados em 2014 para delinear um plano de uma solução pacífica para a situação em Donbass.

Perguntado se informou aos EUA sobre sua disposição de "agir" se o bombeamento de armas para a Ucrânia continuasse, Vladimir Putin respondeu: "Estávamos conversando sobre isso o tempo todo".

"Foram eles que começaram a guerra em 2014. Nosso objetivo é acabar com essa guerra. E não a começamos em 2022, isso  uma tentativa de terminá-la".

A Rússia ainda não alcançou seus objetivos na operação especial na Ucrânia, porque um deles é a desnazificação, a proibição de todos os tipos de movimentos neonazistas, declarou Putin. Questionado sobre o significado do termo 'desnazificação', o líder russo explicou que, em sua busca por uma identidade, a Ucrânia deu prioridade aos "falsos heróis que colaboraram com Hitler".

Quanto à definição e à necessidade de "desnazificação", Putin disse que, no início do século XIX, quando os teóricos da independência e soberania ucranianas surgiram, partiram do fato de que uma Ucrânia independente deveria ter relações boas e amigáveis com a Rússia, mas devido ao desenvolvimento histórico e ao fato de que esses territórios por muito tempo fizeram parte da Comunidade Polonesa-Lituana, o povo enfrentou a questão de encontrar uma identidade.

"Quando a Segunda Guerra Mundial estourou, parte dessa elite extremamente nacionalista começou a cooperar com Hitler, acreditando que isso lhes traria liberdade. As tropas alemãs, incluindo as tropas das SS, delegaram a colaboradores que cooperavam com Hitler o trabalho mais sujo de extermínio da população polonesa e judea", continuou Putin.

De acordo com ele, na Ucrânia, pessoas como Stepan Bandera e Roman Shukhevich foram transformadas em heróis nacionais. "Essas pessoas exterminaram poloneses, judeus e russos. É necessário pôr fim a essa prática e a essa teoria", insistiu o presidente russo.

Questionado sobre como extinguir o "fogo do nacionalismo ucraniano" 80 anos após a morte de Hitler, o presidente russo respondeu: "O senhor disse: Hitler morreu há 80 anos. Mas seu negócio continua vivo. Aqueles que exterminaram judeus, russos e poloneses estão vivos. E o presidente, o atual presidente da atual Ucrânia, lhe aplaude no Parlamento canadense".


Portanto, não se pode dizer que as autoridades ucranianas tenham "desarraigou completamente essa ideologia", acrescentou. "É isso o que entendemos por desnazificação. Temos que nos livrar das pessoas que mantêm essa teoria e prática vivas e tentam preservá-las", concluiu.

Perspectivas de negociações com a Ucrânia

Putin disse que Moscou nunca se recusou a realizar negociações para resolver o conflito na Ucrânia, enquanto Vladimir Zelensky emitiu um decreto proibindo negociações com a Rússia. "Como negociaremos se ele se proibiu e proibiu a todos os outros? Sabemos que [Zelensky] está apresentando algumas ideias sobre a resolução [do conflito]. Mas, para chegar a um acordo, é preciso dialogar, não é mesmo? ", sublinhou.

Ao mesmo tempo, o mandatário russo lembrou que as negociações em que Moscou e Kiev se envolveram logo após o início da operação militar russa em fevereiro de 2022 "atingiram um nível muito alto" em termos de acordo sobre as posições de ambas as partes e "estavam quase concluídas".

"Mas após que retiramos as tropas de Kiev, [...] a Ucrânia descartou todos esses acordos e levou em conta as instruções dos países ocidentais - países europeus e Estados Unidos - para lutar contra a Rússia até o fim", ressaltou Putin.

Carlson quis saber quando Putin falou pela última vez com seu homólogo norte-americano, Joe Biden, ao que o chefe de Estado russo admitiu: "Não me lembro quando falei com ele. Não me lembro, se pode procurar".

Putin lembrou que, antes da operação militar especial, disse a Biden que os EUA estavam cometendo um erro "em uma escala histórica" ao apoiar o que estava acontecendo na Ucrânia e pressionar a Rússia.

Zelensky tem liberdade para negociar com a Rússia?

Durante a entrevista, Carlson também perguntou a Putin se Zelensky tem a liberdade para participar em negociações com a Rússia. "Acho que sim, pelo menos ele tinha", disse, acrescentando que o mandatário ucraniano "chegou ao poder com as expectativas da população ucraniana de que levaria a Ucrânia à paz".

Na opinião de Putin, após chegar ao poder, Zelensky entendeu duas coisas. "Primeiro, é melhor não brigar com neonazistas e nacionalistas, porque são agressivos e muito ativos, se pode esperar qualquer coisa deles. E, em segundo lugar, o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, os apóia e sempre apoiará aqueles que lutam contra a Rússia: é lucrativo e seguro. Portanto, ele tomou a postura adequada, apesar da promessa feita ao seu povo de parar a guerra na Ucrânia. Ele enganou seus eleitores", disse.

O caso do jornalista do WSJ detido por espionagem

Carlson também perguntou sobre o caso do jornalista norte-americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, que está em prisão preventiva na Rússia, acusado de espionagem em favor de Washington. Ele queria saber se a Rússia poderia libertá-lo como um gesto de boa vontade. "Ninguém jamais respondeu aos nossos gestos de boa vontade com gestos semelhantes. Mas, basicamente, estamos dispostos para falar sobre o fato de que não excluímos a possibilidade de fazer isso com um movimento de reaproximação de nossos parceiros", respondeu.

Comentando o caso, Putin observou que "se uma pessoa obtém informações secretas e o faz em uma base conspiratória, chama-se espionagem. Era exatamente isso que ele estava fazendo: estava obtendo informações classificadas, secretas". Gershkovich "estava trabalhando no interesse dos serviços especiais norte-americanos e algumas outras estruturas", enfatizou o presidente russo.