Grupo do Telegram com 70 mil homens compartilhando imagens íntimas de mulheres é revelado

Pesquisadores destacam que o fenômeno é alimentado por ex-parceiros e estranhos que violam a privacidade das mulheres, evidenciando uma cultura de objetificação e humilhação.

Atividades cotidianas, como ir ao supermercado, trabalhar no escritório, aproveitar a praia ou ter momentos de intimidade em casa, podem esconder um perigo: a gravação sem consentimento da pessoa e a divulgação dessas imagens nas redes sociais.

Um levantamento do jornal Público aponta que cerca de 70 mil homens em Portugal, que possui quase 5 milhões de habitantes do sexo masculino, compartilham ou vendem fotos e vídeos de milhares de mulheres, muitas vezes sem que elas tenham conhecimento disso.

Um ambiente seguro?

Uma investigação da revista digital NiT revela que, por trás dessas práticas, estão ex-parceiros, amigos, cônjuges, parentes ou estranhos que podem ter capturado as imagens. Segundo o estudo, um em cada 70 homens em Portugal participa desses canais de bate-papo.

A pesquisa constatou a existência de grupos no Telegram que criam subgrupos para trocar ou vender esse tipo de conteúdo íntimo, categorizando as vítimas por aparência física, orientação sexual ou até mesmo pelas cidades onde supostamente residem. Até agora, as solicitações para a remoção desse conteúdo da plataforma não tiveram sucesso.

De acordo com a ONG portuguesa Não Partilhes, a divulgação ou a ameaça de divulgação de conteúdo íntimo, o uso de inteligência artificial para criar vídeos e o envio de material sexual não solicitado podem ser considerados formas de violência sexual online.

Não apenas monstros

A pesquisadora Maria João Faustino, ouvida pelo Público, argumenta que a existência desses canais reforça a ideia de que um agressor sexual não é um "monstro" com "baixo status social".

Na avaliação dela, a geração e a troca de dados privados são uma forma de "humilhar" as mulheres, mesmo que elas não tenham consciência disso. "Tudo isso faz parte de uma cultura de gratificação que não é necessariamente sexual, mas sempre sexualizada", afirma a especialista.

Uma das vítimas, Núria Silva, relata que começou a receber mensagens "estranhas" de desconhecidos e, posteriormente, descobriu que alguém com acesso à sua conta havia extraído vídeos íntimos que ela havia compartilhado com outra pessoa.

"A vida acabou naquele momento", desabafou, sentindo-se como se todos a estivessem observando, mesmo que isso não fosse verdade.