Caracas convoca o encarregado de negócios do Brasil em rejeição às declarações de Celso Amorim
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou o encarregado de negócios do Brasil em Caracas, Flávio Macieira, para expressar sua "mais firme rejeição" às declarações "interferentes e grosseiras" feitas pelos porta-vozes de Brasília, incluindo o assessor especial de Relações Exteriores do país vizinho, Celso Amorim.
Da mesma forma, o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, foi chamado para consultas imediatamente.
Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores afirma que Amorim, que, segundo essa instituição, se comporta "como um mensageiro do imperialismo norte-americano", fez "julgamentos de valor sobre processos que pertencem apenas aos venezuelanos e suas instituições democráticas", com referência às eleições presidenciais de julho passado, nas quais Nicolás Maduro foi reeleito.
Para Caracas, as declarações feitas no dia anterior pelo funcionário brasileiro perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados do Brasil, onde garantiu que o "princípio da transparência não foi respeitado" no processo eleitoral venezuelano, são para a Venezuela parte de "uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados", o que ameaça seus laços.
Para Caracas, as declarações do funcionário brasileiro "constituem uma agressão constante, que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países".
Essa convocação de Macieira ocorre no mesmo dia em que o presidente da Assembleia Nacional (AN) venezuelana, Jorge Rodríguez, manifestou que o Parlamento poderia declarar o assessor do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, "persona non grata".
O veto do Brasil
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela descreveu como "uma atitude anti-latino-americana", que se opõe aos princípios fundamentais da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), o "veto aplicado pelo Brasil na Cúpula do BRICS em Kazan, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados para membros associados dessa organização".
Caracas descreve como "comportamento irracional dos diplomatas brasileiros" o fato de não terem seguido a posição do resto dos membros do BRICS sobre a entrada da Venezuela nesse mecanismo.
"Assumiram uma política de bloqueio semelhante à política de medidas coercitivas unilaterais e punição coletiva de todo o povo venezuelano", diz o documento.
Diante desse impasse, o país bolivariano afirma que "se reserva, no âmbito de sua política externa, as ações necessárias em resposta a essa atitude".