Relatório do Vaticano denuncia omissão e falta de transparência em casos de abuso

Documento aponta deficiências nas ações da Igreja e cobra justiça e apoio às vítimas.

A Comissão do Vaticano para a Proteção de Menores apresentou seu primeiro relatório anual, que detalha preocupações sobre medidas de proteção contra abusos sexuais na Igreja Católica.

O documento, elaborado em resposta a um pedido do Papa Francisco, em 2022, visa identificar fragilidades dentro da instituição religiosa. Dividido em quatro seções, o relatório analisa a situação em igrejas de diversos continentes.

Entre as conclusões, o relatório aponta que a Igreja ainda lida de forma insuficiente com os casos de abuso sexual envolvendo o clero e que o escritório do Vaticano responsável por esses casos é lento e carece de transparência.

A Comissão destaca a urgência de uma conscientização maior sobre a "terrível realidade" do abuso sexual e qualificou as práticas da Igreja como “má administração”, recomendando que líderes eclesiásticos se comprometam a buscar “justiça, reparação e cura” para as vítimas.

O Cardeal O'Malley, líder da comissão, disse que o trabalho tem como base o reconhecimento e o suporte às vítimas de abuso, além da criação de políticas de justiça mais efetivas. Ele ressaltou que o relatório "documenta avanços, carências e fornece recomendações" para impulsionar mudanças, conforme noticiado pelo Vatican News.

A ausência de canais de denúncia e suporte a vítimas é uma das falhas em igrejas afetadas por casos de abuso, onde se observa a preferência por encobrir as ocorrências, supostamente por medo de críticas, enquanto as vítimas são "manipuladas e ameaçadas".

O que precisa ser feito?

O Papa Francisco, que criou a comissão em 2014, prometeu responsabilizar "clérigos e bispos que abusem de crianças ou que deixem de protegê-las".

O relatório observa ainda que os maiores desafios para implementação de diretrizes são no México e em países do "Sul Global", onde faltam dados e recursos para enfrentar esses casos.

Segundo o documento, a atuação da Comissão ao longo dos últimos 10 anos demonstrou que erros de gestão no passado geraram danos adicionais às vítimas. Essa situação reforça a necessidade de um processo disciplinar que permita a expulsão da Igreja de responsáveis.

Por fim, o relatório afirma que alcançar mais transparência nas operações da Cúria Romana exige reformas estruturais e individuais, para que se supere o período de “abusos generalizados e má administração encobertos” dentro da Igreja.