BRICS Pay é uma alternativa que permitirá ao mundo sair da hegemonia do dólar, diz especialista
A XVI Cúpula do BRICS, que acontecerá na cidade russa de Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro, tem como um de seus principais focos o avanço tecnológico no setor financeiro e bancário. Nesse contexto, muita atenção está sendo dedicada ao BRICS Pay.
Trata-se de um sistema alternativo a outros sistemas de transações internacionais como o SWIFT. Seu principal diferencial é que é descentralizado, possibilitando, quando disponibilizado, pagamentos em moedas nacionais.
O projeto, que deve ser expandido e abranger países que não integram o BRICS, funcionará através da leitura de códigos QR, viabilizando pagamentos através de celulares em qualquer estabelecimento. Atualmente, ele está operando em modo de testes.
"O BRICS Pay anunciou que planeja introduzir seus sistemas até o final do ano", explicou Sergey Katyrin, presidente da Câmera de Comércio e Indústria da Rússia, à RT. "É um passo muito importante, e deve ser entendido que ele não é apenas para os negócios, mas também para cidadãos comuns dos países".
Katyrin apontou para impactos positivos da nova tecnologia em áreas como o turismo. Para assegurar que as pessoas possam "viajar normalmente e pagar de maneira cômoda, deve haver um sistema garantindo que todos os países sejam iguais nesse sentido", disse.
"Potencial compartilhado"
Para Márcio Forti, pós-graduado em Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas, a nova tecnologia contribuirá para o declínio da hegemonia do dólar e para um mundo multipolar.
Ele observa que o desenvolvimento de um sistema descentralizado como o BRICS Pay é uma tarefa desafiadora e "árdua", a ser conduzida em um processo de médio a longo prazo "para que todos os membros possam harmonizar seus sistemas e regulações em prol de uma infraestrutura de pagamentos que funcione sem problemas".
Apesar dos desafios, o comprometimento dos países é motivado pela compreensão de que "qualquer país pode enfrentar sanções dos Estados Unidos por não aceitar as suas imposições".
Suas observações convergem com as do brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr, ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional e ex-vice presidente do Banco do BRICS. Em uma entrevista concedida à RT no início do mês, o economista argumentou que o dólar é uma "moeda perigosa":
"A principal questão é que estão transformando o dólar em uma arma quase militar para minar países vistos como hostis pelo Ocidente. (...) A China, que tem trilhões de dólares em reservas nos EUA e na Europa, está buscando alternativas", afirmou à época.