Independentemente do resultado no dia 5 de novembro, o vencedor da eleição presidencial norte-americana não deve trazer mudanças significativas para as relações entre Washington e os países do continente africano, de acordo com especialistas ouvidos pela mídia chinesa nesta semana.
Ao portal South China Morning Post, X.N. Iraki, professor de economia na Universidade de Nairobi, aponta que "Obama não mudou muito a África", e ainda assim "estava mais próximo" do continente do que Kamala.
Após ter observado as políticas da vice-presidente e as comparado com as de Trump, Iraki chegou à conclusão de que ambos os programas "provavelmente não mudariam muito para os países africanos".
Competição com a China
Apesar das declarações, Iraki reconhece que a crescente influência da China no continente é um fator a ser levado em consideração. Pequim tem gerado incontáveis empregos e melhorias através de seus projetos infraestruturais em países africanos, provocando uma reação de Washington.
Durante o mandato de Biden, os EUA colaboraram com países do G7 para lançar uma iniciativa de 600 bilhões de dólares para parcerias de investimento e infraestrutura na África, visando rivalizar com a Cinturão e Rota e recuperar a perda de protagonismo.
"Durante a cúpula de líderes EUA-África em Washington em 2022, Biden prometeu US$ 55 bilhões em financiamento e investimento para a África ao longo de três anos. Esse foi um dos compromissos mais abrangentes já vistos dos EUA com a África", escreve o SCMP.
Para Gustavo de Carvalho, pesquisador sênior do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, essa disputa por influência teria um fim em um eventual mandato de Donald Trump. ''Sua agenda 'América em primeiro lugar' e sua inclinação ao isolacionismo sugerem que a África não seria uma prioridade em sua política externa'', argumenta.
"Ponto sensível"
Por outro lado, Francis Owusu, professor de planejamento comunitário e regional na Universidade Estadual de Iowa, atenta que a pauta LGBT pode "continuar sendo um ponto sensível" nas relações entre um eventual governo Harris e os seus homólogos africanos.
Em 2023, a vice-presidente realizou uma visita para Gana, Tanzânia e Zâmbia. Ela teve como um de seus principais objetivos promover uma visão de sociedades abertas e progressistas, com foco especial no empoderamento das mulheres e nos direitos de minorias sexuais.
Os valores tradicionais exercem um papel importante nas leis desses países, onde grande parte da população é cristã e muçulmana. O parlamento de Gana, por exemplo, aprovou uma lei proibindo o apoio à comunidade gay e impondo penas de prisão a pessoas se envolvendo em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.