Laboratório culpado pelo transplante de órgãos com HIV ignorou o controle diário porque kits de reagentes eram "muito caros"
Duas pessoas, incluindo um sócio do laboratório envolvido na emissão de laudos fraudulentos, que resultou no transplante de seis órgãos contaminados com HIV, foram presos pela Polícia de Rio de Janeiro na segunda-feira.
A informação é exclusiva do Jornal Nacional, que teve acesso ao depoimento de um dos detidos, Ivanilson Fernandes dos Santos, que era o técnico responsável pelos testes de amostras da central de transplantes. Ao ser perguntado sobre o controle de qualidade da sorologia, Ivanilson contou que até dezembro de 2023 foi encarregado de realizar o controle necessário para evitar erros. Segundo relatado por ele, a partir do início do ano de 2024 o controle de qualidade se tornou semanal, e quem assumiu a responsabilidade foi a coordenadora Adriana Vargas.
Explicando a diferença entre o controle diário ou semanal, o detido destacou a possibilidade dos erros, já que "os reagentes ficam degradados por permanecerem muito tempo na máquina analítica". Para evitar isso, o controle deveria ser diário, mas tornou-se semanal, "por questão de economia dos kits de reagentes, que são muito caros". Ele afirma ter recebido a ordem para economizar, já que houve muitos gastos, enquanto percebia que estava acontecendo alguma coisa errada.
Por sua vez, outro detido, Walter Vieira, que era o responsável técnico e um dos sócios do laboratório PCS, emitiu um dos laudos negativos de HIV, liberando transplantes dos órgãos infectados.
O laboratório PCS Saleme está proibido de realizar exames para o estado no momento, segundo informou a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, foi criada uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados.